sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Conselhos...


É importante:
- não querer perceber tudo quando se lê ou ouve a primeira vez
- não abandonar o interesse por um assunto só porque não se percebeu à primeira, à segunda, ou à terceira (etc) vez
- não pretender “pedagogizar” tudo, isto é, tornar o discurso transparente e acessível, tipo papa feita, linearizando-o para evitar o esforço do outro
- perceber que para se explicar bem uma coisa tem de se perceber muito bem e ter experiência dessa coisa, e que por vezes somos obrigados a explicar coisas/ ouvir explicação de coisas que ainda não percebemos ou experienciámos muito bem
- compreender que nunca há uma compreensão completa de nada, porque por definição nada nem ninguém é completo
- a verdade não é uma coisa exterior à compreensão do(s) sujeito(s), mas é sempre subjectivada por sujeitos, pelo que nunca há verdade absoluta nem conclusão definitiva de nada, o que não implica cair no relativismo pós-moderno (neoliberal) de que tudo tem potencialmente igual valor (desde que se venda, desde que seja aceite)
- desconfiar da intuição e daquilo que aparece como doxa (hábito instalado, evidência óbvia), nomeadamente daquilo em que toda a gente parece, senão estar de acordo, pelo menos aceitar implicitamente na sua actuação repetida de todos os dias
- desconfiar da opinião própria e de outrém, seja de quem for. Não há posições neutras e desinteressadas. Toda a discursividade (produção de sentidos, verbais ou outros) é manipulada e manipulável e visa objectivos conscientes ou inconscientes, políticos, e portanto inseridos em jogos de poder
- todas as pessoas sabem muito, apenas existem diferentes formas de saber com diferente valor de mercado e formas de saber/experiência que foram silenciadas/colonizadas/parasitadas por outras por forma a saírem da concorrência – foram proletarizadas, por assim dizer
- todo o discurso magistral, de autoridade, e mesmo o que se apresenta como irrefutável, científico, provado, etc., é um discurso situado politicamente e emana de uma fonte de poder, pertencendo a uma arena de poder. Não há uma verdade superior ou neutra (meta-verdade) que legitime outras verdades menores. Há uma “repartição do sensível” como diz Rancière, que visa manter e reestruturar permanente a divisão das classes e proteger o sistema da apropriação privada
- ideologia não é um conceito fora de moda, ultrapassado. Toda a vida humana está impregnada de ideologia, sendo a sociedade um concerto (muitas vezes em desequilíbrio, desafinado, portanto) muito complexo de forças, que em última análise exprimem, mais pela acção quotidiana do que pelo que se diz, diferentes ideologias concorrentes
- a ideologia que se está a impor é a ideologia neoliberal na sua feição mais pura, quer dizer, da privatização do que dá valor à vida nas mãos de uma minoria (antes prometida e até certo ponto distribuída pelo chamado estado social), privatização essa paga pela maioria, que é proletarizada. É a este processo obsceno que se dá o nome de crise.

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