SEM DEPOIS
Desce as escadas, passa,
Passo a passo,
Por todas as escalas
Do que chamam sofrimento.
Agarra as folhas mortas
Do chão,
Ouve a sua súplica.
Esperaste sempre, sempre
Pela amada
E quando finalmente
Se aproximou o beijo
Era um punhal tão fino,
Tão fino,
Tão frio, tão lento,
Tão incrivelmente
Determinado, Impiedoso:
A percorrer-te os músculos,
As veias, os tendões, tão lento
Saiste então como expulso
Da tua própria casa
E desceste as escadas
Até ao frio
A frente de azul
Onde as ondas batem
Com toda a força.
E não tinhas medo.
Este é o meu corpo,
Ó mar,
Esta é a minha vida,
A minha biografia.
Aqui estou para ser julgado
Por Ninguém.
Foram as palavras
Que me conduziram
Até aqui,
Inquilino de mim mesmo,
No pequeno apartamento
Na cama estranha
Caminho para as cores,
Para a fusão absoluta
Das Cores.
Branco, branco, o branco
Sob o branco.
E negro, negro, o negro
Sobre o negro.
Neste fundo das escadas
Já não é preciso
Mais descer.
Só dar o salto
Irreversível
Voar
Por cima de todas as escalas
Cortando o ar como
Um anjo pesado
Sem depois.
Sem depois: isso
É o fundamental.
voj porto 2.2.2011
2 comentários:
"Tão fino,tão frio,tão lento...
inquilino de mim mesmo."
Bom demais.
Sem depois.
Subo nas escadas, passo,
Passa a passa,
Por todas as cores
Do que chamam ilusões
Agarro as mortas flores
Da telha fria
Desço do telhado
Esperei sempre, sempre
Voar e não cair
E quando finalmente
Se aproxima o chão
Entro numa queda leda,tão lenta,
Tão incrivelmente lenta
que quando o sol determinado, Impiedoso:
me esmaga os músculos e os ossos
As veias artérias e os tendões,
fá-lo tão lentamente
que a dor não vem
no corpo que não é meu,
Na vida que não é minha ,
Nem de Ninguém.
Porque o tempo da queda
Ultrapassou o do mundo
E ao bater no solo
Bati no nada
Cortando o nada com o nada
Eu anjo insubstancial
De Nada Feito
Sem Antes nem Depois
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