quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Conferência que a SPAE promove no Porto a 9 de Abril de 2011

Local: Centro Unesco do Porto
R. José Falcão, 100
15 h.

colabaração da Fundação Eng.º António de Almeida, a quem muito agradecemos.


Conferência

IMAGEM; REPRESENTAÇÃO E EMANCIPAÇÃO EM RANCIÈRE

A relação entre a potência e o acto, entre o possível e o real, ocupa um lugar cimeiro na história ocidental. Desde Aristóteles que potência e acto se inter-relacionam segundo uma dialéctica de oposição e vinculação. Sem desvirtuar esta representação, é nossa pretensão desviar o foco de análise para a experiência da impotência e sua relação com a acção. Partindo do conceito rancièriano de sensível partilhado, ensaiaremos pensar sobre o complexo processo de captação de imagem e sua conversão em representação. Algo acontece no encadeamento de imagens que actualiza a própria imagem e transforma um acontecimento sensível num Outro. Da experiência da textura do sensível de um Outro acontecimento ao poder individual de associação e dissociação face à imagem que se impõe, tentaremos pensar sobre a possibilidade de cada um, enquanto espectador, desarticular o real e, consequentemente, de se emancipar.

Contudo, dada a complexidade do assunto, e sendo resultante de uma primeira aproximação, parte do que se exporá terá um cunho meramente provisório e “ensaístico”.


Maria José Barbosa

Doutoranda em Filosofia na Faculdade de Letras da UP.

a propósito da segunda pessoa do singular

A propósito da segunda pessoa do singular



Sento-me de novo a uma mesa de esplanada

Da cidade onde dizem que nasci, onde vivi

Até ela ser minha, a minha cidade: antes

De ter partido para toda uma outra vida.


Vejo os mesmos monumentos, as ruas, o tejo,

As mesmas palmeiras, e até encontro traços

Que não esperava, conservados.


E mesmo ao lado coisas novas, inesperadas.

Novas marcas de automóveis, lojas mais modernas.

E sento-me melhor na cadeira,

Com aquele sentimento despaisado

De estar no estrangeiro, de tudo ser igual

Ao já imaginado, com uma pequena diferença.


Não sei se seria por essa pequena diferença

Que tu aparecerias. Talvez te esperasse sem saber.

Mas bem se sabe quanto a mais terrível palavra

É a palavra tu: uma palavra feita de carne e choro

E esperança e tinta escrita como sangue roxo escuro.


Assim fiquei na esplanada da gramática

Enquanto as gotas de água vinham pousar

Por toda a parte, quase que individualmente,

E faziam refulgir os metais. As cadeiras desocupadas.


Disse-lhes: não me podeis servir para nada.

Mas agradeço a intenção.


E peguei na mochila com as máquinas,

Entre brilhos, sons, sombras, reflexos,

Essas coisas que andam no ar, fui respirando,

Parti para o circuito turístico com nuvens sobre a cabeça

E uma ameaça de chuva, um souvenir para a família,


E deixei para trás as cadeiras todas molhadas

A olharem umas para as outras, para o fosso do rio,

como se só houvesse neste mundo eu e elas,

um mundo desprovido dessa tremenda palavra – tu.


Voltei-me então para fotografar isso,

Para poder dar testemunho aqui,

Para da ausência poder fazer presença,


e vi-te, sim,

Em mil rostos anónimos, que diziam coisas agradáveis

E acolhedoras. Faz favor esteja à sua vontade.


E todos tinham um objectivo, uma tarefa,

Talvez um encontro marcado,

Uma ocupação, uma determinação, algo combinado.


Esfalfei-me por ruas e travessas, até que tomei

Um táxi, e lhe disse: leve-me para os pastéis de Belém,

Tenho lá uma quantidade de coisas que fazer,


E além do mais não posso vir aqui

Sem provar aquele som estaladiço.

Aquele açúcar, aquela canela, aquele calor.


É que sabe, dizem que nasci aqui há sessenta e tal anos,

E levavam-me sempre ali. Gosto sempre muito.




voj, porto, 30 dezembro 2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

Matthew and Isabel - nice artists that we met at Níjar, Almería



Susana, Isabel and her (very nice) cat.




Pieces of pottery work by Matthew and Isabel
Tienda de los Milagros, Níjar






Work by Matthew at Agua Amarga, beautiful beach.
Natural Park of Cabo de Gata, SE Spain.


December 2010




http://latiendadelosmilagros.com/




Lisa, Rafa, Fina - nice people that we met... at Cortijo Los Malenos, Almeria, Spain

Me, Lisa, Susana and Rafa


Lisa's dog, waiting for our departure to eat...


Lisa and Susana





Lisa


Lisa and Fina

Feliz 2011 ! Happy New Year!
















voj Porto, Dezembro 2010/December 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Lançamentos no Porto de 2 revistas





Lançamento dos TAE 50, de 2010 e do JIA 13, de 2010





NÃO SE ESQUEÇA POR FAVOR E SE PUDER COMPAREÇA
!


CENTRO UNESCO DO PORTO
R. JOSÉ FALCÃO, 100

SÁBADO 4 DE DEZEMBRO ÀS 15 HORAS.


ENTRADA LIVRE.


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OBRIGADOS!



Electri-cidade" - visão de Teresa Sá Couto

in:
http://orgialiteraria.com/?p=1798


Procurar «o movimento da curva», posicionar-se no «entre», no «estar imediatamente antes / Do que vem imediatamente depois», deixar o corpo, que está no turbilhão da curva, deflagrar e tecer o próprio sudário: assim nos chega Electri-cidade, o último trabalho poético de Vítor Oliveira Jorge, que reúne, em 260 páginas, textos longos em verso e prosa poética.
Assumidamente metapoética, esta poesia busca a elasticidade do pensamento, a soberania da imagem, sendo a acção mobilizadora enunciada claramente no texto: «Criar uma espécie de tensão; partir de terra em terra; montar a tenda, repetir a cena, variar as luzes», «representar que nem um louco», «com os dentes todos pretos de tinta. Dando mordidelas textuais no ar». O resultado é a «hemorragia de versos, / Como longas escadarias, / Cada degrau pedindo outro, / Cada sala desembocando / Numa próxima, de outra cor. / Cada imagem apresentando outra imagem» (p. 97), em estilo vertiginoso, esfuziante e torrencial, patente também no desenho estrófico, com versos de tamanho muito desigual. «Por que nervo passa este movimento? / Por onde se pode começar a esquadrinhar / Esta geografia?» (p. 162). E começa-se pelo corpo, onde se ancora, fortíssima, esta poesia: o corpo antigo que é noite e quer ser iluminado, a «escaldar / de luzes e reflexos e notas e sons, que gargantas / Espalharam no ar denso ao longo dos séculos», esquadrinhado em círculos e espirais, poema após poema, muitos deles afigurando-se-nos como paráfrases de outros – e estará aqui um aspecto negativo deste compêndio, pela ideia que se nos agarra de poemas que seriam projecto ou estudo doutros, e que uma revisão e selecção cuidadas seguramente eliminariam para conferir homogeneidade à colectânea.
A explosão do corpo espraia-se por «arquitecturas» que o envolvem e que configuram o seu drama: o quarto, a cama, paredes, tectos, praças, «o enxadrezado do chão», recantos das esquinas, drama bem patente neste «A força das horas»:
[…] as manhãs às vezes começam ao contrário, como se fossem noites atrasadas.
a cama é então um lugar de conforto e de martírio, confundidos no mesmo corpo,
na mesma penumbra.
há um desalinho no passado e no futuro.
e no presente as pernas cruzam-se sem se encontrarem.
os lençóis suam.
um peso cai das roupas estendidas,
dos dias anteriores,
da opacidade das janelas,
onde
não se roçam pombas, Nem se abrem candeeiros.
apenas fragmentos se erguem acima do colchão,
à procura […] (p. 11)
Passento, o corpo é enredado no frenesim da criação poética: «odor que excita as narinas», tensão de ossos, músculos, tendões, uma «máquina tremenda, uma vontade / Do corpo vivo, esticado, com luzes / Nas extremidades: / Com luzes nos pés, nas mãos, // Um corpo todo aberto, / Todo erguido no vento» (p. 137), com que se procura, afinal, uma respiração, dito assim em belíssimos versos:
O corpo odeia as superfícies, o corpo
Foi feito para voar. Mas o maldito peso
Prendeu-o ao solo, e o maldito tempo
Colou os dias uns aos outros. (p. 77)
Do corpo, em cruzamentos, entre «Trapézios», destacam-se as mãos, os pés e o centro. Das mãos saem «estradas», «escadas», «veias», «velas / que os pássaros cruzam / furando os panos», e o texto «acaba sentando-se / no fundo de si mesmo», no chão enigmático que é a folha branca do poema: «passaram-se de facto / aqui / já muitas, talvez demasiadas, coisas! // e um emaranhado de linhas / pousa no chão» (p. 85). Ostentando a sua «nudez total», está a planta do pé, o «pé terrivelmente nu sobre as superfícies». O centro é emanação, cópula, luxúria, «esperma», «vulva», a «intumescência» dos lábios, com a palavra a almejar o poder ilimitado, como uma «cerejeira coberta de frutos brilhantes e carnudos, vermelhos na sua totalidade prestes a rebentar de dentro de si mesma» (p. 133). Também assim se edificam os três elementos – cântico, culto e altar – do Grande Segredo da palavra, da «Flor» que, alucinada, «cresce sobre a coluna» para Dizer, ao mesmo tempo que foge «para dentro / de um cabelo enorme», intacta, «porque todo o seu íntimo / Está na reserva inviolável», numa conclusão a ressumar o esforço de Orfeu na sua descida ao inferno para reunir, no canto, a sua dispersão: «Subimos todos conduzidos / Pelo baixo profundo / Do Segredo»; trata-se do «Grande Desejo» – e «desejos e apetites são asas», na formulação de Novalis – de «estoirar com os balões solitários», todavia com a consciência de que se «caminha para o desconhecido», dito assim, num texto em prosa:
as noites adensam-se para dentro de si mesmas mais que os dias, porque está escrito: não olharás para dentro das janelas. Podes interrogar-te sobre quem estará por detrás, por dentro, de cada janela apagada, ou acesa. Mas jamais saberás quem é. (p. 130)
Finalmente, no corpo, e por via dele, veicula-se a noção da escrita como sacrifício: «sempre com o mesmo fervor do centro» a mesma ânsia de janelas acesas em pleno dia, subir o turbilhão para se ir ter a um lugar que não se conhece, ou encontrar o objecto da demanda «como vestígio, um olhar entre dois pontos de interrogação»; é o corpo entre corpos na pista dos sacrificados; é o desejo de dispersão e aniquilamento do corpo que «assoma às varandas, para se evaporar», se diluir com a atmosfera, se volatilizar: «É o momento das janelas, do trespasse do corpo através dos espelhos. // Por que não tínhamos inventado isto antes, afinal, por que percorre-/ mos tão longo caminho sobre gumes de obsidiana, quando os pés se / podiam desmaterializar!» (p. 256).
São focagens e desfocagens de uma deambulação consciente de ter de arrostar com a solidão, e se apazigua encontrando o «Ouro» na simplicidade do seu lar, a sua toca no fundo duma rua sem saída, lugar de «paz infinita», referido num texto de carácter biográfico titulado, precisamente, «Ouro» (p.169). Na assunção da nudez absoluta, surgem textos como este:
[…]
trago-te o meu coração
Arrancado ao peito, com veemência,
Com violência
E estendo-o à tua surpresa
Como um seixo do rio, macio, suave,
Limpo. Tão limpo, tão nu.
Eis o meu Sagrado Coração
Desprevenido. (p. 70)
«As curvas são feitas para isso / Para nos colar ao momento seguinte / E como gatos espetarmos o focinho / Nessa procura obsessiva», lê-se neste Electri-cidade. «O poder de tornar as obsessões, que são experiências enérgicas do mundo exterior e interior, em formas tendentes a dispor-se numa forma fundamental, isso é o acto por excelência poético», diz Herberto Helder. Vítor Oliveira Jorge procura que a palavra – esse gesto «com que se atam sentimentos» e se desnuda a alma – seja a voz fundamental, e esculpe um canto lírico com lugar próprio na actual poesia portuguesa.

por Teresa Sá Couto

Electri-cidade
Vítor Oliveira Jorge
Edições Colibri
2009