quinta-feira, 13 de maio de 2010

o oco da palavra






o oco da palavra



Nunca vim aqui
Onde já estive, e esqueci.

Encontro tudo tão mudado.
A tua boca que não conheci.
Os quadrados da toalha alucinados.
Os copos todos. Descrevendo círculos
Sobre o chão todo enxadrezado.

A tua boca aparecendo à janela
De uma paisagem que se apagou.

Os copos dançando todos
Em volta dos teus lábios ausentes.
A tua boca de novo acesa
O vinho sendo servido pelo braço.
Os copos abertos, desaparecidos.
O líquido derramado
Sobre o tecto, por onde foste
Para a paisagem que há-de vir.

Uma cabeça de lobo à janela
Segurando nos dentes o fragmento
De um vestido talvez nunca usado.

Desde que comecei a escrever isto
Que não me sinto. Nunca estive aqui
Não fui pelas palavras autorizado


voj (texto e foto: jardim botânico, madrid, março 2010)

3 comentários:

Blogat disse...

Lindo!Texto e Foto.Parabéns

cristinasiqueira disse...

Bela composição.
Imagens em sensações.Efeito surrealista .Um pinçar entre a lógica sem lógica do imáginário em novelo de sentimentos e absurdos.
Oco,sim oco vertiginoso ,âmago.

Cris

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado...