terça-feira, 9 de setembro de 2014

Loures, 2014: Tempos de Crepúsculo... Quando a Coruja de Minerva Finalmente Levanta Voo

IMP.
Documento de trabalho pessoal, por ora.
Esta realização já foi aprovada pela Câmara Municipal de Loures, apenas aguardando a criação de uma linha gráfica por parte dos serviços competentes da autarquia.
Trata-se aqui pois de uma divulgação prévia, feita a título pessoal, com o principal objectivo de permitir aos interessados marcar este evento nas suas agendas, e de solicitar colaboração aos potenciais interessados em co-moderar estas sessões. Essas pessoas deverão fazer o favor de me contactar por mensagem. Desde já o meu/nosso obrigado.
Esclareço as pessoas interessadas nesta última forma de colaboração que, dada a situação de restrições de despesa que se vive, todo o nosso trabalho é evidentemente realizado “pro bono”.
VOJ.
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Câmara Municipal de Loures
Departamento de Cultura, Desporto e Juventude
Divisão de Cultura
Área de Museus e Galerias
Museu Municipal da Quinta do Conventinho
Novembro e Dezembro de 2014


Tempos de Crepúsculo...
Quando a Coruja de Minerva
Finalmente Levanta Voo

Na introdução da sua obra sobre a filosofia do direito, o grande pensador alemão Hegel referiu-se à antiga associação da coruja - ave noturna, que levanta voo pelo crepúsculo, e à noite vê mais que todas as outras – à deusa Minerva (a grega Atena), e portanto ao saber, à filosofia... Essa sua frase ilustra a ideia de que o fim (ou a fase de amadurecimento de um processo, e em geral do devir no seu conjunto, que é aberto e contingente), cria retroativamente as condições para a compreensão dos factos passados, fazendo-nos ver as coisas mais claras e como que (de certo modo, ilusoriamente) pré-determinadas pelos seus antecedentes.
Por outras palavras, há aqui uma causalidade retroativa, que tem tudo a ver com a maneira como encaramos o tempo e a temporalidade: um ato propriamente dito - e, nomeadamente, aquilo que podemos considerar excepcional, um evento (algo totalmente inesperado) – cria as suas próprias condições de possibilidade.
O futuro é imprevisível “a priori”: apenas retroativamente podemos compreender a “lógica da história”... o que só aumenta a importância do estudo crítico do “passado”, para fugirmos à tendência de ver o tempo como uma realidade contínua – passado, presente, futuro – isto é, como uma linha recta que vai do início ao fim, e que é de origem cristã (opõe-se ao modo como os gregos, por exemplo, conceberam o tempo). Era nessa ideologia que se baseava e baseia a ideia de planeamento como “colonização do futuro”, na frase de A. Giddens, sociólogo inglês que foi conselheiro de Blair. Ora é interessante lembrar como a Sra Thatcher, campeã do neoliberalismo, considerou que o maior êxito da sua ação foi...a “terceira via” de Blair...
Foi aquela maneira cristã de pensar o tempo (entre a Criação e o Juízo Final) que permitiu desde há séculos o desenvolvimento do capitalismo, com a sua aceleração (sobretudo a partir do século XIX), a sua “fuga em frente” em direção ao futuro, sempre alimentando-se de “crises”. Mas também, paradoxalmente, foi essa lógica temporal que pode ter bloqueado tentativas que se fizeram de criar futuros alternativos, numa linha ideológica oposta à do lucro e afirmação individuais, a lógica do mercado e do empreendedorismo, que hoje aparece triunfante, e mesmo imbatível. Como se, absurdamente, a história tivesse chegado ao seu fim...W. Benjamin tinha bem razão ao falar do capitalismo como uma religião... que às vezes impregna inconscientemente mesmo aqueles que dela dizem descrer...
Esta questão tem obviamente a máxima premência nos tempos que correm, pois há sinais de que a situação neoliberal que se propagou a todo o mundo pode descambar em novas (e perigosas) modalidades de (sofisticado e tecnológico) autoritarismo, minando o que parecia serem as bases de uma sociedade mais redistributiva, e mostrando os limites da própria democracia tal como formalmente é praticada.
Pretende-se aqui simplesmente criar um pequeno espaço de reflexão onde se aborde a questão da história, da memória, enfim, do tempo, não apenas para nos entretermos com conversas eruditas, mas para tentarmos “ver um pouco mais claro” no meio do nevoeiro das opiniões e do ruído dos média, a contrapelo do que se ouve no ambiente em que se vive – um espaço público insuficiente, depressivo  e deteriorado.
Assim, propomos um primeiro ciclo de encontros/debates com o Professor Vítor Oliveira Jorge, docente aposentado da Universidade do Porto, o qual, em tardes de sábado, abordará os seus pontos de vista, expondo-os como “motes” para um debate com quem deseje participar, entre as 15 e as 18 horas, numa sala do Museu Municipal da Quinta do Conventinho, em Loures.
Esses primeiros quatro encontros – e dizemos primeiros porque poderão seguir-se-lhes outros, caso estes despertem o interesse dos participantes; ora, o êxito da iniciativa dependerá também muito desses participantes... – decorrerão dos dias 1, 8 e 29 de Novembro e 6 de Dezembro de 2014; a participação nas sessões é inteiramente gratuita, pedindo-se apenas uma inscrição prévia. Os temas a abordar serão, sucessivamente:

HISTÓRIA – 1 DE NOVEMBRO de 2014
A história linear que nos ensinaram e ensinam não corresponde aos nossos anseios, havendo que desenvolver outras formas de pensar a temporalidade e a causalidade.
MEMÓRIA – 8 DE NOVEMBRO
Memória individual e memória colectiva... constituição da subjetividade e da participação cidadã... mas isso implica pensar novas formas de viver em comunidade.
ARQUIVO – 29 DE NOVEMBRO
O arquivo, a obsessão de conservar, é a outra face da obsessão de produzir. Mas para quem, e para quê? O arquivo está ligado ao poder, desde os Arcontes (magistrados) gregos... quem detém o que se arquiva e o que se descarta ou oculta? Quem controla o arquivo?
MUSEU – 6 DE DEZEMBRO
Museu, lugar da canonização, local de culto laico do passado. Museu, a outra face da moeda do consumo. Pensar o que significa contemplar na era do turismo.

Aos participantes inscritos contamos enviar antes de cada sessão, por mail, um texto (ou um link para um texto disponível na net) que seja útil ler antes da referida sessão. Estes encontros decorrerão em ambiente informal, pedindo-se apenas às pessoas a possível pontualidade. A meio da tarde haverá naturalmente um intervalo para restauração, podendo os participantes aproveitar a cafetaria/esplanada que existe no Museu.

Local de realização:
EN 8 km 4,3 - Quinta do Conventinho, 2660-346 Santo António dos Cavaleiros – Loures

Telefone: 21 115 0660


Nota biográfica do coordenador dos debates
(o qual convida outros potenciais intervenientes para apresentarem os seus pontos de vista e dialogarem, em cada uma das sessões)

Vítor Oliveira Jorge nasceu em Lisboa em Janeiro de 1948 e vive em Loures. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa em 1972. Fez quase toda a sua carreira universitária na Universidade do Porto, sendo professor catedrático desde 1990, e tendo-se aposentado em 2011. Doutorou-se em 1982 com uma tese em arqueologia, área genérica que já tinha sido a da sua dissertação de licenciatura. Tem obra poética, e ensaística, interessando-se muito por questões transversais, interdisciplinares, tendo organizado numerosas iniciativas nesse âmbito, nomeadamente sobre temas que serão abordados neste ciclo de encontros.



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