imagem do filme UM VERÃO COM MÓNICA
de Ingmar Bergman
feminografias
A mulher está sempre atrás de uma cortina transparente; vem da zona mais escura, ou para ela caminha até se diluir. Descalça. E os pés são a última e preciosa luz que a retina capta.
A mulher empoleira-se numa balaustrada. Entre a sombra e o silêncio da casa, e entre a luz e o silêncio do mar. Fica aí, eternamente suspensa, sorrindo. E assim a fotografia torna-a imortal, mesmos se os pés nus balanceiam, e chamam.
Um silvo de barco longínquo atravessa o corpo de mulher que se deita, para ser fotografada. Nunca veremos tal barco, que pode estar perdido no mar. Mas o corpo da mulher ondula, desassossegado, e expõe a planta dos pés.
Os lábios, sim, a posição da boca, dando-se inteiramente. Todos os orifícios femininos se iluminam como peixes eléctricos de profundidade. Ouvem-se bolhas de água, um ruído azul de aquário. Mas os pés continuam muito brancos, os dedos irrequietos.
Vão ao litoral expor-se ao sol, para vestirem uma segunda pele, como as cobras, sobre as rochas com cuja cor se identificam. Mas o fotógrafo procura a mulher branca, a juventude da pele intocada e jovem, saindo descalça do banho. A nuvem do vapor de água em torno dos seus passos.
voj
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