AS CANÇÕES OUVEM-SE AO LONGE?
De surdez em surdez (até ao estoiro dos ouvidos?), até onde/até quando irá o desgoverno deste país, desta Europa, deste mundo entregue ao total desnorte (para a grande maioria, enquanto alguns se orientam ou até prosperam) ?
Que visa o novo tipo de autoritarismo que o comanda, em nome dos cartéis do dinheiro? Destruir pela humilhação, pobreza, fome, desprotecção a maior parte da população? Fazer o deserto para melhor circularem nas cidades desertadas os poucos, poderosos, na obscena atitude da sua total desumanidade?
Nunca se imaginou antes isto, esta modalidade soft e chic de autoritarismo, mas... ter-se-ia podido imaginar, no começo do século XX, o ponto a que podiam ter chegado os fascismos, que foram outra "experiência" do capitalismo? Tinha-se imaginado a que ponto ideias regeneradoras, como as da revolução de 1917, poderiam derivar num aparelho perverso, dito "comunista", que depois se implantou? Poderíamos nós prever há alguns anos a perversidade de uma China, onde o capitalismo autoritário experiencia uma nova modalidade, mantendo os símbolos icónicos do sistema dito "comunista"?
Em S. Paulo, Brasil, cidade onde nunca fui, refere Zizek que os senhores da alta finança se deslocam directamente em helicópteros do alto dos seus arranha-céus, sem precisarem de vir à rua, onde circula a multidão de seres humanos que dali parecem formigas.
As formigas cantam cada vez mais nas ruas, por toda a Europa, "O povo é quem mais ordena", mas será que esse som se ouve dos helicópteros?... ou dos paraísos onde os muito ricos se entrincheiram? E para que serviria, se fosse ouvido?
Formigas que somos, continuaremos nas nossas rotinas esperando que a próxima bota não nos pise?
Isto é vida, isto é viver?...
E quem tem filhos, em nome de que é que os educa, que valores lhes transmite? Ensina-os a cantar "Grândola, Vila Morena"? É maravilhosa essa canção, foi maravilhoso Zeca Afonso, é bom que em cada sítio onde vá um opressor se ouça tal canção, é bom que as pessoas venham às ruas, cada vez mais, cada vez mais frequentemente. É bom.
Mas é triste, pior, é trágico, que fique só por aí.
As formigas são muitas, mas há um sentimento de fim. Canta-se com um nó na garganta.
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