súplica frenética de magritte quando se volta ao avanço plano da onda pela areia molhada
as ânsias sobem do tapete
sob a mesa da leitura,
e pelas pernas acima vêm
bocas, murmúrios, memórias,
toda a invasão lenta
dos ardores.
tudo se concentra
na tulipa escarlate
que subiu
até ao tecto, e arde.
arde.
enorme,
como só magritte sabe.
e por isso
à beira do mar desmaiam
as pernas enormes,
deitadas, abertas em v,
suplicando ao horizonte,
às ondas
e às marés,
e às suaves anémonas,
ao seu ondulado silêncio
à sua sucção azul,
que venham urgentes
dar uma pausa de água,
um bálsamo de azul e saliva
uma imersão pacificadora
ao prolongado tormento.
rastejantes, até ao sexo,
como a aproximação gentil da vaga
como a aproximação invisível,
tão suave, tão incrivelmente suave
do consolo supremo, e afinal
tão simples e antigo:
é que são insuportáveis estas agulhas
estes ponteiros bicudos
dos relógios implacáveis
quando,
por debaixo da mesa de leitura
vêm, inadvertidamente,
cruelmente,
traçar assim lado a lado
como alfinetes
a extrema sensibilidade dos genitais.
voj
maio 2011, porto
3 comentários:
Brutalíssimo...
Obrigado !!!!!!!
Fora de contexro, meu bom amigo, mas,sempre com toda a admiração que me merece a Poesia, permita-me que lhe sugira a leitura do post que acabei de inserir sob o título: "Por favor não matem o Alentejo ou, parafrasenado alguém: «É a Cultura, Estúpido»"... onde faço referência a uma das obras mais magníficas que li em língua portuguesa sobre o tema e que é... da sua autoria :))
Um beijo.
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