estas sombras
sentir o corpo a atravessar o ar
a tarde sem qualquer urgência
nas sombras, nas árvores
esta sensação de caminhar,
de sentir o chão, o seu atrito suave,
sentar-me sobre a pedra
rugosa e ocasional
e olhar as luzes que se acenderam
bem longe
os reflexos que por todo o lado
se acenderam
e me rodeiam
e sentir a consciência escorrer
como um rio silencioso
e tão cheio de pequenos silêncios
e redemoinhos
e esperar por uma mão
tão suave como a pele da pétala
que venha sossegar a minha pele
gretada
cair suavemente sobre ela,
como folha simples
sobre a superfície rugosa
do granito
deitar as sombras
sem qualquer urgência
sobre o meu corpo
deitar as árvores, as flores
sobre o rio escorrendo
fluir sem qualquer ansiedade
ou objectivo, ou intenção
ver a paisagem ao meu lado
atravessar o ar ao meu lado
uma coisa assim tão simples
ocasional
revelação da pessoa
revelação do tempo
estas botas dão-me tão bom andar
há muitos anos que não caminhava
contra o ar, com uma mão na minha mão.
estas sombras tão tranquilas.
voj abril 2011, porto
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