Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Boa notícia
por Agência Lusa, Publicado em 27 de Abril de 2010
A Biblioteca de Arqueologia que integra o espólio do Instituto
Arqueológico Alemão (IAA), cedido em regime de comodato ao Estado
Português, reabre ao público quinta-feira em Lisboa, segundo
comunicado do Instituto do Património Arquitectónico e Arqueológico
(IGESPAR).
A biblioteca, constituída por um acervo documental com cerca de 55.000
registos bibliográficos, funcionará no segundo piso da Ala Norte do
Palácio da Ajuda, segundo a mesma nota.
A cerimónia de abertura, quinta-feira às 17:00, será presidida pelo
secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle.
A Biblioteca tem carácter público, com acesso direto a utilizadores
maiores de 16 anos.
"Como serviço especializado nas diversas áreas da arqueologia, o seu
acervo está mais vocacionado para investigadores, professores,
estudantes universitários ou pós-universitários e profissionais da
área", lê-se na mesma nota.
A Biblioteca herdou os espólios do extinto Instituto Português de
Arqueologia, e do IAA, aquando da extinção da sua delegação de Lisboa,
em 1999.
A Biblioteca funcionava nos serviços de arqueologia em Belém, cujos
edifícios foram demolidos para instalar naquele espaço o futuro Museu
Nacional dos Coches.
Segundo a mesma nota, esta é "uma das mais importantes bibliotecas
portuguesas especializadas em arqueologia", constituída por um acervo
documental com cerca de 55.000 registos bibliográficos, divididos por
cerca de 1.400 títulos de periódicos (metade dos quais ativos e
atualizados), 23.000 títulos analíticos e 30.000 títulos monográficos.
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Michel Foucault: we need to read him and to think about what he has writen
domingo, 25 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Conferência sobre Lévi-Strauss
"Claude-Lévi Strauss: da compreensão do mito à análise do parentesco"
numa homenagem ao grande mestre da Antropologia desaparecido em 2009 promovida pela SPAE - Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia.
A entrada é livre.
Centro Unesco do Porto, R. José Falcão, 100.
Agradecemos a colaboração, mais uma vez, da Fundação Eng.º António de Almeida, proprietária do espaço onde o Centro funciona.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Theory and Practice of Art
segunda-feira, 19 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Castanheiro do Vento 2010
Castanheiro do Vento 2010 – 28 de Junho a 30 de Julho
Ficha de inscrição
1. Nome:
2. Idade:
3. Universidade (ou instituição a que se encontre associado):
4. Período de participação:
6. Transporte
Caso chegue de comboio a Freixo de Numão, será disponibilizada uma carrinha da A.C.D.R. de Freixo de Numão, que fará o transporte da estação ferroviária até ao alojamento. Os participantes deverão chegar sempre num domingo às 18.44 à estação de Freixo de Numão – Mós do Douro.
Se escolher outro meio de transporte, por favor, avise, com antecedência, a hora da sua chegada à vila de Freixo de Numão.
7. Alojamento
Os participantes ficarão alojados na vila de Freixo de Numão (Vila Nova de Foz Côa), em regime de camaratas ou em quartos duplos ou triplos (as instalações serão cedidas pela Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão:
8. Alimentação
Serão fornecidas três refeições diárias (pequeno almoço, almoço e jantar no refeitório da A.C.D.R. de Freixo de Numão)
(O pequeno-almoço de sábado e domingo não se encontram incluídos)
Também será fornecido água mineral diariamente (uma garrafa de 1,5l por pessoa)
É vegetariano(a) ou vegan? ___________
Tem algum problema de saúde em particular (como alergias) do qual a equipa de coordenação deva ter conhecimento? Se sim qual? ___________
9. Horário de trabalho
8 h: Pequeno-almoço em Freixo de Numão
9 h – 13h: período de trabalho no sítio de Castanheiro do Vento ou no Museu de Pré-história de Freixo de Numão
13h – 15h: almoço (em Freixo de Numão)
15,30 – 18 h: período de trabalho
10. Dias livres
Sábado e Domingo
11. Equipa de coordenação
Professor Vítor Oliveira Jorge (Universidade do Porto), João Muralha Cardoso (IGESPAR), Ana Margarida Vale (aluna de doutoramento, FLUP), Gonçalo Leite Velho (Instituto Politécnico de Tomar), Bárbara Carvalho, Sérgio Gomes (aluno de doutoramento,
FLUP),
12. Outras dúvidas
Não hesite em contactar
Telemóvel: 00351914222705 (Ana Vale)
Email: ana.m.vale@gmail.com
13. O que deve trazer:
Roupa adequada a todo o tipo de condições climatéricas, incluindo chuva.
Cantil
Protector solar e chapéu
Saco-cama (opcional)
14. Pode também saber mais acerca de Castanheiro do Vento e do projecto de investigação em que se insere em:
http://www.architectures.home.sapo.pt
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Interpretação
INTERPRETAÇÃO
O problema da interpretação foi e é fulcral em psicanálise, como obviamente em todos os “saberes”.
Simplesmente, Lacan deslocou-o do domínio do sentido (descobrir e dar a revelar ao paciente um significado oculto) para o do desejo (permitir ao analisando “ouvir a mensagem” que ele inconscientemente dirige a si próprio). Vejamos como, sucinta e esquematicamente.
Para Freud, o objectivo da interpretação (pelo analista) era o de ajudar o paciente a tornar-se consciente de pensamentos inconscientes (Evans, Routledge, 1996, p. 87). Mas Freud não via a interpretação (dos sonhos, por exemplo) como uma descodificação (como se houvesse um sistema universal de equivalências), antes valorizava a associação livre, acabando por insistir no carácter simbólico dos sonhos (aspecto que Lacan viria a contestar) e no sentido particular de cada um deles em cada indivíduo.
Por outro lado, o que interessa Lacan na interpretação, como aliás em tudo o que abordou (Cléro, Dict., p. 152), não é o mesmo dos estruturalistas (com que alguns o identificam, principalmente no início da sua carreira), mas sim os “restos” da interpretação, o que ela deixa de fora, aquilo a que não atende. A procura do sentido (a “estrutura” dos estruturalistas, para um anti-estruturalista como Ricoeur, por exemplo) deixa restos por toda a parte: pois bem, é destes (seg. Clero, ib.) que Lacan se vai ocupar.
Aquilo que se apresenta como tendo sentido oculta o indicador do sentido que está compreendido nesse sentido mesmo. “O sentido envolve e dissimula o que o produz.” (Clero, ib). O discurso de interpretação visaria pois as condições do sentido que sempre procuram a invisibilidade.
“Se, no presente – escreve Clero, ib. – algo se diz [se apresenta] como indicando o passado, temos de compreender que esta designação do passado tem um papel no próprio presente, sem que devamos fixar-nos e deixar-nos distrair apenas pela função de indicação ou de indexação.” “A interpretação deve centrar-se no manejamento do significante.” (Lacan, Sem. V, 1958). A interpretação é uma máscara do inconsciente (Cléro, p. 150).
Na concepção lacaniana de interpretação há pois muitos elementos que são úteis para ver de modo diferente e esclarecedor a questão da interpretação, tanto na prática psicanalítica, como – e é isso que me importa destacar – na vida corrente (no que ela há de uma ideologia, ou filosofia, posta em prática, “com-provada” a cada momento pela prática, isto é, tornada “realidade”) e na própria prática de pesquisa de um investigador, como por exemplo do arqueólogo que sou.
Na análise ocorre uma situação de “encontro” de duas pessoas, analista e analisando, que, apesar da sua especificidade, tem certo paralelo (acentuo “certo”, portanto, de um determinado ponto de vista, e com muita cautela nesta comparação) no encontro do investigador com o seu objecto de estudo. Este “paralelo”, a aceitar-se, permitir-nos-ia desmistificar muitas “ingenuidades” ou “primarismos” da démarche dita científica, tal como ela é correntemente encarada/posta em prática, baseada num complexo de crenças (as quais fazem corpo com a ideologia dominante, ou seja, servem de sustento ao reforço/reprodução ad infinitum do mesmo e portanto à ilusão suprema de se estar a “progredir” sem de facto “se sair do mesmo sítio” ).
O potencial radicalmente subversivo “de uma certa psicanálise” – no sentido de um conhecimento verdadeiramente perturbante, isto é, aberto à singularidade e ao espanto, ao “não-sentido”, ao que escapa à lógica do Todo – reside aqui. Isto é capital, porque há muita coisa (diria quase tudo o) que passa por psicanálise que não tem para mim (por intuição) interesse algum. A escolha do caminho é pois crítica: danação ou salvação, como se diria cristãmente.
Quer dizer, sem entender as condições em que pode dar-se o processo de conhecimento do outro, da realidade outra, que está perante mim, tudo o que vou fazer em “ciência” é contribuir com a minha energia, esforço e eventual “criatividade” (capacidade de desenvolvimento de alguma coisa desdobrada noutras), para reproduzir/reforçar um conjunto de práticas e de ideologias que me levam à ilusão mais completa, aquela que se me afigura como a única certa, indiscutível, e não só causadora de júbilo próprio, como devendo ser transmitida aos outros (discurso universitário) como a verdadeira (discurso do mestre).
Baseio-me para estas modestas reflexões no pensamento de Lacan tal como é expresso em três (muito conceituados) livros/guias de estudo; dois de Jean-Pierre Cléro: “Le Vocabulaire de Lacan” (2002) e “Dictionnaire Lacan” (2008 – ambos da ed. Ellipses, Paris), e um de Dylan Evans (“An Introductory Dictionary of Lacanian Psychoanalysis”, Londres, Routledge, 1996), limitando-me em muitos casos a traduzir livremente, mesmo sem aspas (às vezes colocando entre parêntesis rectos a palavra/expressão em francês – todo o pensamento de Lacan “fala francês”, como o de Freud “fala alemão” - pelo que, para não ser acusado de plágio, desde já digo que se trata de notas de estudo sem qualquer pretensão de originalidade; apenas servem para me ajudar a melhor incorporar o pensamento de Lacan, articulando-o com os meus interesses/experiência.
O facto de partilhar estas notas é apenas uma estratégia pessoal de trabalho: assim obrigo-me a ser um pouco mais rigoroso e atento, sendo evidentemente qualquer erro e imprecisão de minha responsabilidade.
Pensar é tentar apreender [s’emparer de] o significante no que ele tem de abrupto, de original, sem se deixar escorregar para as facilidades do significado.
Ou seja, como escreve Evans (p. 89), “a interpretação assim inverte a relação entre significante e significado: em vez da produção normal de sentido (o significante s produz o significado S), a interpretação trabalha ao nível de s para gerar S: a interpretação faz emergir “significantes irredutíveis”, sem sentido.”
Na análise, analista e analisando estão ambos numa situação peculiar: o analista tentando “esquecer” o que aprendeu, tudo o que constituiria um obstáculo à apreensão daquela experiência na sua singularidade, sensibilizando-se para o “choque” do que haverá a interpretar; o analisando esforçando-se por “encontrar uma atitude”, por reagir, face a tal acontecimento que lhe surge de forma inédita. Porque a análise, cada análise, é sempre um acontecimento singular, e portanto em última instância não traduzível – o que pode contundir com a praxis e o ethos da ciência, e até da vida corrente, comunitária, que se baseia sempre na comunicação, na “traduzibilidade”, obviamente: mas deixemos esse problema para outra ocasião.
A interpretação do analista não consiste em “desvendar” [dévoiler], em fornecer uma mensagem, mas é uma tarefa nuito peculiar de interacção, que consiste em tentar reagir, através de uma construção “cega”, a uma aparição, a algo que surge [surgissement] e que desampara. A construção do analista baliza-se sempre pela ideia de que não há uma verdade escondida que se visaria capturar, uma “conclusão” ou “solução” que fosse uma resposta à demanda feita pelo paciente, com a sua “queixa”, ao procurá-lo. A sua missão, por assim dizer, é criar ambiguidade, por vezes devolvendo ao analisando a sua mensagem mas sob forma invertida.
Pelo seu turno, este último, o analisando, compreende que o que há a interpretar não está primeiro “dentro dele”, e depois na mente do analista, mas que a “revelação do essencial”, esse “espigão [“kern”] de sem sentido” [non-sens] tem de ser construída por ele, analisando, e não pelo analista. Como diz Lacan no Seminário XI, p. 279: “O que é essencial é que ele veja, para além da significação, a que significante – no sentido irredutível, traumático – ele está sujeito [assujetti], enquanto sujeito [sujet].”
Ou seja, interpretar, neste contexto, não consiste em substituir o discurso de um primeiro indivíduo (paciente) pelo de um segundo indivíduo (o intérprete), discurso este mais verdadeiro do que o primeiro, mais adequado ao que o primeiro supostamente quereria dizer. Se isso acontecesse na análise, se o analista se colocasse na posição de mestre, deitaria a análise a perder.
Desde cedo que esta questão ocorreu, em psicanálise. O analisando perceberia a lógica do analista e poderia até fazer-lhe resistência, fechando-se no seu discurso.
De facto, percebeu-se precocemente, na história da psicanálise, bem antes de Lacan, que não se tratava de fornecer ao paciente uma interpretação do significado inconsciente do seu sintoma para que este se livrasse dele, por assim dizer. Mas Lacan acentuou que esse fechamento inconsciente do analisando era provocado pelo próprio analista.
Para autores anteriores, cientes da resistência de analisandos cada vez mais informados sobre a psicanálise, o analista deveria tender a complicar as suas interpretações, fornecendo um sentido e um significado mais “elaborados”, de modo a provocar uma identificação do analisando com eles.
Para Lacan, bem ao contrário, o que se trata é de desviar “uma comunicação possível sobre uma verdade” para o lado de um “não-sentido” irredutível dos significantes. “O significante precede o significado; é mais real que este último.” (Cléro, Vocabulaire, p. 39).
Mas a interpretação, por muito que se articule como ligação de um significante a outro, não está aberta a qualquer sentido, não é uma qualquer interpretação que vale (nisto opõe-se a certa fenomenologia)... uma interpretação significativa o que deve é fazer aparecer “elementos significantes irredutíveis, “non-sensical”, feitos de não-sentido” (Lacan, Sem. XI, p. 278). A interpretação recusa a compreensão, que sempre foi vista como típica das ciências humanas, por oposição à explicação. A compreensão é perniciosa, por assim dizer, porque visa verter o discurso do outro numa teoria pré-estabelecida; Lacan: “Quanto mais se compreende, menos se escuta”. (Clero, Voc., p. 40).
A interpretação é pois um dispositivo táctico para produzir efeitos.
Como para Nietzsche, para Lacan a interpretação é um processo sem fim. Ela incide sobre o “já interpretado”. Por outro lado, também o inconsciente procede por interpretação. Sem. XI, de 1964 (Cléro, Dictionnaire, p. 150): “ O que a interpretação do analista faz é recobrir o facto do inconsciente [como jogo do significante] ter já nas suas formações – sonho, lapso, dito espirituoso ou sintoma – procedido por interpretação.” “Interpretar um comportamento, um sonho, é instalar-se numa galeria, numa base de coluna [tore] sem fundo, em que a interpretação se supõe permanentemente a si mesma, suscitando, tal como o saber, efeitos de verdade. Mas antes do mais a interpretação é portadora de gozo [jouissance] e o que faz constantemente é parecer revelar uma verdade” (Cléro, Dict., pp. 150-151). Ela não é um trabalho no sentido em que uma pesquisa do verdadeiro o pode ser: “O sentido não é senão o gozo [jouissance], a mais-valia que procuramos obter em cada situação, a recompensa da interpretação.” (Cléro, op. cit, p. 151).
Uma interpretação totalmente vinculada ao sentido é uma religião; por isso Lacan tenta “fugir” ao significado, insistindo na importância do significante como tal.
É nesse sentido que valoriza a poesia como a única que permite a interpretação: Lacan pensa-se como carecendo de talento poético para poder instalar uma técnica segura, que seria a interpretação analítica. Só assim “a galeria de sentidos(...), ou o toro [moldura circular de base de coluna] da interpretação não seria um poço indefinido onde a análise mergulha.” (Clero, p. 151).
A interpretação vale, tal como o oráculo, pelo seu seguimento, pelo que se faz a partir dela.
terça-feira, 13 de abril de 2010
PLEISTOCENE DATABASES
Announcement
PLEISTOCENE DATABASES -
ACQUISITION, STORING, SHARING
June 10th - 11th
2010
Location
Neanderthal Museum
Talstraße 300
40822 Mettmann
Germany
Contact
Andreas Pastoors
NESPOS Society e.V. c/o
Neanderthal Museum Foundation
Talstraße 300
D-40822 Mettmann
Phone: +49-(0)2104 9797 - 0
Fax: +49-(0)2104 9797 - 96
Email: info@nespos.org
www.nespos.org <http://www.nespos.org>
For registration, please fill out the application form and send it to the
NESPOS Society before June 1, 2010
We kindly ask to post the workshop in your institution !!
Organized by NESPOS Society e.V.
in cooperation with the Neanderthal Museum Foundation
and the CRC 806 ‚Our way to Europe‘
sábado, 10 de abril de 2010
Património Cultural Imaterial
Elaborada no quadro jurídico de salvaguarda do património cultural imaterial estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 139/2009, de 15 de Junho, e para fins da regulamentação deste, a Portaria n.º 196/2010 constitui um instrumento imprescindível à operacionalização do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, instituído por aquele Decreto-Lei e pelo qual é responsável o Instituto dos Museus e da Conservação, na qualidade de entidade responsável a nível nacional pela coordenação das diversas iniciativas a desenvolver para a salvaguarda do PCI.
Fonte: lista Museum
Museum@ci.uc.pt
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Cesare Pavese
Le jardin sur la place, enfoui
dans la fraîcheur et dans l’obscurité.
Dans la nuit, les maisons
qui se perdent dans le noir, gigantesques,
font entrevoir entre leurs masses des lumières.
Un désert terrifiant au fond du ciel
lointain, entre les étoiles.
La grande fièvre splendide
s’assourdit lorsqu’elle atteint ce noir.
Ici c’est le silence,
l’immobilité haute d’un cimetière.
Les bruits et les lumières
parviennent du lointain,
d’au-delà de ces arbres.
De vivantes lumières
jaillissent dans le noir,
les voix les plus joyeuses
hululent frénétiques
dans le triste abandon.
Étouffées elles viennent mourir
dans le noir insondable
comme de pâles suicidés
encore fous d’amour pour la vie.
Écouter dans le cœur
les passions lointaines,
les écouter qui montent dans la nuit,
sur le moite parfum de la terre.
Une flore inconnue
de désir, enfermée dans ce ciel
de noir et de silence.
Une flambée qui perce dans le noir
comme la lueur rouge
qui saigne entre les arbres.
28 juin 1929
Cesare Pavese, La Mort viendra et elle aura tes yeux, Verrà la morte et avrà i tuio occhi, édition bilingue, Poésie II, traduit de l’italien par Gilles de Van, Gallimard, 1969, p. 89
Cesare Pavese dans Poezibao :
Bio-bibliographie <http://poezibao.typepad.co
S’abonner à Poezibao <http://poezibao.typepad.co
Une de Poezibao <http://poezibao.com/>
Il giardino profondo, sulla piazza,
di oscurità et freschezza.
Nella notte, le case
che si perdono enormi nel buio
mostrano tra le masse qualche luce.
Un deserto pauroso in fondo al cielo
remoto, tra le stelle.
La grande febbre splendida
s’attutisce giungendo in questo buio.
Qui è silenzio,
l’alta immobilità di un cimitero.
I rumori et le luci
giungono di lontano,
di là da queste piante.
Dentre l’oscurità
sgorgano luci vive,
ululano frenetiche
nell’abbandono triste
le vo più gioiose.
Giungono soffocate
a morire nel buio senza fondo
come suicidi pallidi
folli ancora di amore per la vita.
Ascoltare nel cuore
le passioni remote,
ascoltarle salire nella notte
sul profumo umidiccio della terra.
Una vegetazione sconosciuta
di desiderio, chiusa in questo cielo
di buio e di silenzio.
Uno sboccio di fuoco dentro il buio,
come quel lume rosso
che sànguina tra gli alberi
28 giugno 1929
Mes remerciements à Florence Trocmé pour ses contributions poétiques journalières!
"Australopithecus sediba"
"Australopithecus sediba", a nova estrela da paleoantropologia
Descoberto novo australopiteco mais parecido connosco do que os outros
08.04.2010 - 16:03 Por Teresa Firmino
Imaginamos se seriam mãe e filho. Ou como foram parar ao lago que
existia no fundo de uma gruta. Ou se morreram ao mesmo tempo. Tudo
mistérios em torno de uma mulher e de um rapaz que viveram há quase
dois milhões de anos, cujos ossos foram encontrados na África do Sul
há cerca de um ano e meio e que hoje estão na capa da revista
"Science" como uma das descobertas mais importantes nos últimos tempos
relativas a um antepassado humano.
Eis o "Australopithecus sediba", a nova estrela da paleoantropologia,
que tem mais características em comum com os primeiros representantes
do nosso próprio género (o Homo) do que qualquer outro australopiteco
conhecido até agora. Portanto, pode ajudar a desvendar quem foi o
antepassado que deu origem ao género humano.
Entre as muitas grutas no território que agora é a África do Sul,
existia uma que não tinha tecto há cerca de 1,9 milhões de anos e era
funda. A mulher e o rapaz terão caído nessa gruta e ali permaneceram
durante dias ou semanas. Os corpos foram depois arrastados até a um
lago subterrâneo, talvez por uma chuvada, e aí acabaram por ser
cobertos por sedimentos. Ao longo de dois milhões de anos, os
sedimentos foram por sua vez sendo arrastados até que os fósseis
ficaram expostos.
Em Março de 2008, Lee Berger, paleoantropólogo da Universidade de
Witwatersrand, em Joanesburgo, iniciou uma prospecção minuciosa de um
local, a 40 quilómetros desta cidade sul-africana, conhecido como o
Berço da Humanidade e que a UNESCO classificou como património mundial
devido à riqueza de depósitos com fósseis.
Em conjunto com o geólogo Paul Dirks, que entretanto se mudou para a
Universidade James Cook, na Austrália, Berger descobriu imensas
grutas. Em várias havia fósseis. E, numa delas, em Agosto de 2008, a
equipa encontrou os restos de um antepassado dos humanos. Era parte
dos ossos de um rapaz que teria entre nove e 13 anos.
No mês seguinte, continuaram as explorações do sítio, conhecido por
Malapa. Numa pequena cova, o paleoantropólogo reparou num osso que
saía de uma rocha. Atrás desse osso vieram outros, e a equipa estava
na presença de um segundo indivíduo -- uma mulher, com 20 e tal a 30 e
poucos anos.
Mulher e rapaz parecem ter sido arrastados para o interior da gruta
por um único fluxo de detritos, o que sugere que as suas mortes
ocorreram em momentos muito próximos. Por isso, é provável que se
conheçam ou até que tivessem algum grau de parentesco.
Esses sedimentos foram datados como tendo entre 1,7 e 1,9 milhões de
anos, pelo que os fósseis devem ter essa idade. (Além de vários ossos
dos dois australopitecos, havia na gruta ossos de hienas, antílopes ou
felinos com dentes de sabre).
Uma nova espécie
O que têm de especial é um conjunto de características morfológicas
que levaram a equipa de cientistas a classificá-los como uma nova
espécie de australopiteco. Conheciam-se já pelo menos cinco espécies,
todas em África, mas estes dois indivíduos eram diferentes de todas
elas em muitos aspectos. Além disso, algumas das suas características
verificam-se nos membros do género "Homo" e não nos australopitecos.
Antes de mais, diga-se que os australopitecos eram pré-humanos e que
os humanos apareceram precisamente com o género "Homo". A espécie de
australopiteco mais antiga que se conhece viveu há 4,2 milhões de anos
e a que agora é anunciada foi a mais recente, com o crânio do jovem a
servir para definir a nova espécie e a preencher a capa da "Science"
(pelo meio, viveu a famosa Lucy, uma fêmea de "Australopithecus
afarensis", com 3,2 milhões de anos).
O que tinham então aquele rapaz e aquela mulher quer de
australopiteco, quer de humano? Tal como os australopitecos, tinham
corpos pequenos (ambos com cerca de 1,27 metros de altura e 30
quilos), cérebros também pequenos, braços longos e mãos fortes.
Pensa-se que podiam trepar às árvores, mas eram bípedes. Por outro
lado, alguns traços do crânio e da bacia e as pernas longas, capazes
de andar em passada ou até correr, existem no género humano.
Ora a origem do género "Homo" é alvo de grande debate científico: como
seu antepassado, têm sido propostas várias espécies entre os
australopitecos (mas não só). O facto de o "Australopithecus sediba"
partilhar traços comuns com os humanos pode tornar mais claro este
quebra-cabeças evolutivo.
Para baralhar mais as coisas, os primeiros membros do género "Homo"
foram datados com 2,4 milhões de anos. Mas o "Australopithecus sediba"
foi datado como sendo mais recente, com os tais quase dois milhões de
anos, pelo que assim não poderia ter dado origem aos primeiros
humanos. Pode então não ter sido ele a fazer a transição directa para
o nosso género, mas uma outra espécie que existiu antes dele.
"Esta nova espécie é um candidato a antepassado do género 'Homo' ou de
um grupo irmão, com um antepassado próximo, que persistiu no tempo
depois do aparecimento dos primeiros 'Homo'", escreveu a equipa de Lee
Berger na "Science". "'Sediba', que significa 'fonte natural' em
sotho, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, pareceu o nome
apropriado para uma espécie que pode ser o ponto a partir do qual
surgiu o género Homo", conta Berger, na nota de imprensa.
Agora a equipa desafiou as crianças da África do Sul a escolherem um
nome comum para o novo rapaz australopiteco. Sugestões?
Versão integral na edição do PÚBLICO de hoje, 9.4.2010
_______________________________________________
Archport mailing list
Archport@ci.uc.pt
http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
IIº Encontro de Jovens Investigadores do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto
II Encontro de Jovens Investigadores do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto
Dias 9 e 10 de Abril de 2010 (Sexta-feira e Sábado), Anfiteatro I
Vai ter lugar nos dias 9 e 10 de Abril, no Anfiteatro 1 da Faculdade deLetras da Universidade do Porto, o IIº Encontro de Jovens Investigadores
do Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e Porto.
Este Centro de Investigação dedica-se ao Estudo da Arqueologia nas
suas mais variadas vertentes, integrando também os Estudos
Multidisciplinares em Arte, sendo as comunicações o reflexo da pesquisa que é desenvolvida actualmente pelos seus investigadores.
A ENTRADA É LIVRE
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Objects and images in the history of archaeology
Please find below a call for abstracts for the session 'Objects and Images in the History of Archaeology' to be held at the European Association of Archaeologists conference in the Hague, Netherlands on 1-5 September, 2010, http://www.eaa2010.nl/.
We welcome paper proposals from archaeologists and other researchers interested in the visual and material history of the discipline. Please submit abstracts of no more than 300 words by 1 May via the EAA's online system:
http://www.congrex-events.nl/?pid=179
With many thanks,
Sara
**Objects and images in the history of archaeology**
Organisers: Sara Perry (U Southampton), Katherine Leckie (U Cambridge)
Research into the history of archaeology is often an offshoot of the discipline, tucked into the sidelines of everyday practice. As a result, our method and theory can often seem overly presentist, reveling in the apparent novelty of current-day approaches. Arguably, this presentism is especially obvious in visual and object-oriented enquiry in archaeology, whose currency nowadays might imply that such concerns with materiality are a recent addition to the field. However, even the briefest look at the history of the discipline testifies to the longstanding embroilment of visualisation and materialisation in archaeology's evolution. What is important is that there are a range of innovative approaches now in use (by historically-minded archaeologists and others) which aim to untangle these relationships, illuminating the place of images and objects in the discipline's intellectual and material development.
This session aims to begin laying out the case for a rich and deep history of visual and material operation in the archaeological field. We endeavour to demonstrate not only that visualisation and materialisation have been
entangled in archaeology from its most embryonic moments, but that this history continues to impact on current practice. The papers in this session seek to examine these entanglements, drawing parallels between different artefact types and their roles in the development of the discipline. We aim to highlight various methodologies, from museum collections analysis to graphic study to historic archival research. Themes that we look to explore include visualisation, the creation of artefacts, and the circulation and categorisation of objects--our aim being to address such questions as:
- What role do objects and images play in archaeology and its historical development?
- How have collecting and exhibiting practices enabled the formalisation of the discipline?
- How is archaeological knowledge made through material and visual culture?
**********
Sara Perry
Archaeology, University of Southampton
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Fantasia e sintoma em Lacan: algumas notas
A sua dificuldade não é um tique ou questão superficial (vontade de ser hermético por motivo fútil), mas antes pretende-se com um estilo, bem entendido, de tipo "barroco", mas também e sobretudo com a consciência muito sentida de que, ao usarmos a linguagem, e portanto ao estarmos embutidos num sistema simbólico, num mundo de espelhos que reflectem outros espelhos, estamos já sempre "ditos" por um Sentido, por um Grande Outro, ou Outro com O grande, que nos precede.
FANTASIA - cenário imaginário que, devido à sua presença fascinante, esconde a falta do Outro, da ordem simbólica, da sua consistência, ou seja, liga-se a uma certa impossibilidade fundamental implicada no próprio acto de simbolização, incluindo a "impossibilidade da relação sexual".
Para Lacan, que lhe dedicou todo o Seminário de 1966/67, a fantasia tem um efeito protector, defensivo da castração, ou seja, da falta do Outro: é, como diz Evans, uma "qualidade fixa e imóvel." (p. 60).
Por exemplo, a fantasia neurótica refere-se ao desejo do sujeito de corresponder ao desejo para ele enigmático do Outro, segundo a típica pergunta: "Que (me) quer?"... Lacan, que apreciava muito a lógica formal, expressou isso por um matema conhecido. Claro que cada "paciente" possui um cenário fantasmático próprio, a que compete ao analista estar atento. Essa singularidade exprime o modo de "jouissance" de cada indivíduo, modo distorcido próprio da fantasia como "formação de compromisso". A fantasia, escreve Evans citando também Lacan (p. 60) " (...) é assim quer o que permite ao sujeito manter o seu desejo, quer aquilo através do qual o sujeito se mantém a si próprio ao nível do seu desejo volátil, evanescente."
Há no (em cada) sujeito uma fantasia inconsciente fundamental, esperando-se do processo de transferência, na análise e depois dela, que o sujeito "atravesse a sua fantasia fundamental", que nele ocorra um modo novo de "jouissance".
Contra M. Klein, Lacan sustenta que "qualquer tentativa de reduzir a fantasia à imaginação é um erro arreigado." (Evans, p. 61)
Este conceito de "fantasia", como toda a gente sabe, era já central em Freud, que percebeu bem que realidade e fantasia se não podem opor facilmente, como se faz no senso comum, pois que a própria realidade é já discursivamente construída. Fantasia para Freud é uma cena consciente ou inconsciente, criada pela imaginação, e na qual se patenteia um desejo inconsciente.
SINTOMA (symptôme) - mensagem codificada na qual o sujeito recebe do Outro a sua própria mensagem (dele, sujeito) sob forma invertida.
O sintoma é distinto da estrutura, mas, ao contrário da medicina (Evans, p. 203), não há entre eles uma relação de superfície/profundidade (=o sintoma aparece como sinal de algo escondido que o médico tem de inferir e procurar curar).
Em Lacan, quando se fala de sintomas, são normalmente os sintomas neuróticos que estão em causa, e não outros (psicose, perversão, etc). "O objectivo da psicanálise lacaniana - escreve Evans, p. 203 - não é a remoção dos sintomas neuróticos, dado que quando um sintoma neurótico desaparece, ele é simplesmente substituído por outro. É isto que distingue a psicanálise de qualquer outra forma de terapia."
Nos anos 50 ("primeiro Lacan") o sintoma neurótico não tem um significado universal: é único, próprio da história de cada sujeito. Nem há uma relação bi-unívoca entre sintomas e uma estrutura subjacente. Quando muito, o analista procura perceber qual será a "questão fundamental que activa o discurso" do neurótico (Evans, p. 204)...e, num certo sentido, todos o somos...
A partir de 1962, a concepção linguística do sintoma tende a ser abandonada a favor de uma ideia do sintoma como pura "jouissance" (gozo) que não pode ser interpretada, o que leva à introdução por Lacan em 1975 do novo vocábulo "sintome" (Evans, p. 204), em relação com um grande interesse pela "topologia" de cada sujeito. Há no autor, ao longo da sua vida, uma passagem do ênfase na linguística (sintoma como significante, inconsciente estruturado como uma linguagem, etc) para o ênfase na topologia (in Evans, p. 189) (ver abaixo).
SINTOMA (sinthome - neologismo em francês) - dimensão do Um, ponto último da consistência do sujeito; marca aquilo que no sujeito é mais que ele mesmo e que ele ama mais do que a si próprio. Esse Um é o Um da jouis-sense (outro termo próprio a Lacan), do significante ainda solto, flutuante, permeado pela satisfação. Esta é o elemento que faz com que ele não esteja (ainda) articulado numa cadeia de significantes. Trata-se de uma temática que o autor começou a desenvolver a partir do Seminário XX (1975/76). O sintoma é o que permite ao sujeito viver, na sua singular organização do gozo (jouissance) (in Evans, p. 189). Assim, a tarefa da análise consiste em identificar-se com o sintoma (neste sentido de "sinthome").
O sintoma não é pois analisável. Lacan acaba por juntar ao laço borromeano (tríade do real, do simbólico e do imaginário) um quarto anel, o do sintoma, que dá "coerência" ao sujeito. A "função do sintoma - enlaçando o real, o simbólico e o imaginário - situa-se inevitavelmente para além do sentido" (in Evans, p. 189), sentido esse que se encontra na intersecção do simbólico e do imaginário. O papel da obra de Joyce neste "último Lacan" é fulcral: toda a obra deste autor é vista como um sintoma ("sinthome"), donde a criação de mais uma expressão própria a Lacan (são muitas centenas os neologismos que propôs). Citando um autor que colabora em Evans, p. 190: " Joyce torna-se um saint homme [repare-se que, dito em francês, soa como sinthome] que, recusando qualquer solução imaginária [para os seus problemas] foi capaz de inventar uma nova maneira de usar a linguagem para organizar o gozo [enjoyment]."
Esta nota, simples e rudimentar apontamento, é baseada de muito perto (por vezes é apenas uma tradução) em:
Slavoj Zizek, "Looking Awry", London, the MIT Press, 1992 (pb), p. 132
e ainda em
Dylan Evans, "An Introductory Dictionary of Lacanian Psychoanalysis", London, Routledge, 1996, pp. 59-61 e 188-190.
Útil por exemplo, em português, o "Dicionário de Psicanálise", de Elisabeth Roudinesco e Michel Plon, Mem Martins, Ed. Inquérito, 2000, para quem não tenha outro recurso; mas não há nada que substitua a leitura de Lacan e, escusado é dizer, de Freud, a quem Lacan se propôs retornar (no sentido da releitura atenta dos seus textos), em articulação com todo um vasto conhecimento científico e filosófico próprio dos meados do séc. XX. Por isso Lacan e Freud vão juntos e ajudam-se (ajudam-nos) mutuamente na compreensão da revolução psicanalítica, que não é nenhum dogma nem a única matéria indispensável, mas é algo sem o qual dificilmente se entende outras coisas. É como se nunca tivéssemos lido Marx ou Weber e quiséssemos pensar o social e o político, e por aí adiante. É claro que um arqueólogo não foge à regra.
terça-feira, 6 de abril de 2010
domingo, 4 de abril de 2010
sexta-feira, 2 de abril de 2010
O que não se vê no Facebook, nem (geralmente) nas notícias
De notar também o papel das agências de rating em tudo isto.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Henri Meschonnic
Les éditions Arfuyen publient Demain dessus demain dessous, d’Henri Meschonnic, décédé il y a presque un an (le 8 avril 2009)
Ma tête
est un arbre
toutes mes paroles
sont les feuilles
que je caresse
et plus je les caresse
plus elles te parlent
moi
comme un arbre
je dis oui à tous les souffles
c’est ce qui me tient lieu de pensée
sinon que mes racines
parfois me montent à la tête
et je ferme les yeux
sur ce que je suis
moins je sais ce que je dis
moins je sais ce que je suis
plus les paroles me poussent
bientôt je serai
avec toi une forêt
•
j’entends des cris
ils viennent du bout du monde
ils tournent comme des enfants
autour de moi
chaque cri est un visage
je me vois en eux
je me multiplie en eux
et leurs cris deviennent
mon visage
je ne me reconnais plus
mais plus je les entends
plus je deviens ce que je suis
•
j’ai besoin du ciel
pour me voir
le ciel est mon miroir
du dedans
je ne sais plus
où mon corps s’arrête
ma tête est sans limite
•
chaque passant
est un soleil
nous passons
dans la lumière
les yeux fermés
avec l’inquiétude
de ne pas nous reconnaître
dans la foule
je te serre
de tous mes yeux
Henri Meschonnic, Demain dessus demain dessous, Arfuyen, 2010, p. 10, 11, 62 et 63.
Henri Meschonnic dans Poezibao :
Bio-bibliographie <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2006/03/henri_meschonni.html> (mise à jour le jeudi 1er avril 2010), extrait 1 <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2004/12/almanach_henri_.html> , "Lecture" poétique 2 <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2005/12/lectures_potiqu_1.html> , extrait 2 <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2006/03/anthologie_perm_25.html> , lecture à la librairie Tschann déc. 06 (Le nom de notre ignorance, la Dame d’Auxerre) <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2006/12/rencontre_avec_.html> , sa mort <http://poezibao.typepad.com/poezibao/2009/04/le-d%C3%A9c%C3%A8s-dhenri-meschonnic.html>
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