sábado, 17 de fevereiro de 2007

Voyeurismo do crime

Em Portugal praticamente não se consegue ver um telejornal que não seja uma espécie de conjunto de sketches de filmes policiais, de catástrofes e de acidentes. Por que é que os "media" se concentram tão obcecantemente nessa triste faceta, de que é importante estar consciente, mas que obscurece tanto do conjunto do país e do que nele de bom se produz e faz?
Não há alegria e felicidade em Portugal?
Não há ninguém que estude este fenómeno, que parece representar grave "depressão colectiva", já anunciada pelas inúmeras bandeirinhas nacionais há anos colocadas em todas as janelas?
Não são as notícias ou os factos em si, é a sua repetição obsessiva que revela qualquer coisa de insano, de poluído, no país, pelo menos no país que alguns "media" julgam que é aquele que os portugueses querem ver.
Salva-nos a SIC-Notícias com alguns debates e o jornal das 9, por exemplo ! Alguns programas onde podemos inteirar-nos das situações internacionais, dos problermas do planeta, dos livros que saem, e ver bons filmes. Mas é sobretudo preciso ter cabo e não precisar de se levantar muito cedo para poder aceder a coisas com um mínimo de qualidade, ou até muito importantes, mas que se passam de madrugada.
Precisamos de bons programas que nos façam rir, ter esperança no país, sentirmo-nos bem aqui.
Não se vê isto em parte alguma, esta obsessão frenética em explorar o lado obscuro das coisas. Sempre com honrosas excepções, quase todas as televisões de todos os países são de fraca qualidade, mas nota-se em Portugal uma particular obsessão em contingências que podem ser graves, mas não dão conta do país no seu todo, e sobretudo do "país positivo" como o slogan nos habituou a dizer.

4 comentários:

José Manuel disse...

Alguns comentários (muito) desgarrados:
A obsessão do mórbido corresponde aos desejos do público, que não se limita a Portugal mas actualmente é universal. AS notícias deviam transmitir o Real, na sua diversidade e complexidade, mas de forma rigorosa e objectiva.

É clao que num país em que há 500 mil desempregados, 20% da população a viver abaixo do limiar da pobreza e outros 20% muito pouco acima, em que todos os dias são anunciados encerramentos de hospitais, urgências e outros serviços publicos essenciais, o clima psicológico não pode ser positivo.
Ainda por cima não há perspectiva de melhoria, antes pelo contrário.
Os portgueses actualmente estão preocupados com a sua sobrevivência a curto prazo o que conduz a uma diferente percepção das coisas.
Outros dos problemas é que o chamado "país positivo" (que até aparece periodicamente nos media)compõe-se apenas de pequenas oásis que não comunicam para o resto da sociedade.
Também não podemos esconder os dramas do quotidiano e fingir que vivemos num país sem crimes, sem aborto, sem suicidios, etc, porque isso já se foi noutros tempos.

Mas ainda há algumas coisas boas no cabo: o canal ARTE que desapareceu da grelha de canais da TVCABO continua a emitir para quem for assinante TVTEL (a outra empresa concorrente do serviço cabo).

Vitor Oliveira Jorge disse...

Percebo isso tudo,mas há a necessidade premente de uma análise sociológica mais profunda e de uma crítica a fazer aos "media". Justamente, o que é o Real? Só Deus sabe. O que se passa é a necessidade de elaborar um discurso crítico pertinente sobre as várias realidades que nos fabricam e qem que habitamos...passar da enunciação de intenções/explicações à produção de um contra-discurso, e isso tem de ser feito com rigor.O importante é a pessoa estabelecer distância, criar espanto perante o que todos comem em silêncio.

Inês Aroso disse...

Pois é! Por qué é que as pessoas deprimidas ou simplesmente tristes já não suportam ver os telejornais? O senso comum diz-lhes que ainda vão ficar pior depois de verem as notícias... Também eu, apesar de estar ligada ao mundo da comunicação, muitas vezes não estou com cabeça para ver o noticiário: para quê, para ficar ainda mais angustiada quanto ao meu futuro e da minha filha? Devia ter no telejornal a advertência: contra-indicado para pessoas com ansiedade e/ou depressão. Não é querer meter a cabeça debaixo da areia como a avestruz, é cansaço...
Parabéns pelo blog, não conhecia.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado pelo último comentário e pelos parabéns. Keep in touch.Felizmente temos muitos modos de esquecer, fazendo coisas interessantes, a pretensa realidade que muitos nos querem impingir!
Há muita coisa interessante a acontecer, apesar do cinzentismo, dos lobbies e da falta de incentivos... há que arranjar uma dispositivo psicológico de defesa.