quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

silimanite

a ti, que te fechas
na própria ausência de resposta,
como uma caixa infantil,
lacada,

gostaria de dizer :

já muita vez te abri.

olhavas o mar, de costas,
e nenhum de nós se podia ver.

eu sentia-me a prosseguir
até ao centro
de uma espécie de
rosácea;

com o ardor polido,
a determinação desconhecida
da silimanite.

e entrava,
fechava e abria válvulas,
mecanismos,
com precisão científica;

com a demora alucinada
de uma metodologia
solidamente estabelecida,

no esplendor dos óleos,
no refulgir das forças.

e se tu, vergada, já antes
parecias antecipar
a consecução do evento,

a sua confirmação víamo-la
no mar
- nas ondas ora alteradas, ora quietas,
sem que lhes batesse o vento.

assim poderás continuar
na tua encenação da apatia, sugerindo
que isto é só imaginação:

mas já não podes evitar o efeito
de o ter lido,
e a sua indeterminação.

pois, de surpresa, aqui,
te fiz modificar
tanto o teu passsado
como o teu futuro.

e todavia,
se tu assim te abriste
secretamente,
sem compromisso,

como caixa de jogo
sempre deposta na mesa
para o tempo indefinido,

eu também fiquei sem saber
o que tal caixa realmente continha.



copyright v.o.j. 2007

5 comentários:

José Manuel disse...

Bonito poema.

Agora a despropósito, já vi "arqueologia sensacionalista" mas esta notícia bate todos os recordes do ridiculo:
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=227809&p=22&idselect=219&idCanal=219

Anónimo disse...

Porque a acha ridicula?

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado pelo que diz relativamnente ao poema.
A notícia não me parece ridícula. É bom que também estas questões ocupem as primeiras páginas dos jornais.
Quanto ao conteúdo, e à polémica que tem arrastado, não me especializei na matéria para poder ter uma opinião científica. Tenho apenas impressões...
VOJ

José Manuel disse...

A notícia não apresenta elementos que comprovem o sensacionalismo do título. Só faltou estar lá o arqueólogo, feito paparazi, a fotografar o acto e, quem sabe a colocá-lo no you tube.
Se, como diz a Eugénia Cunha, não há sinais genéticos da presença de neanderthais nos homens modernos a notícia é apenas uma fantasia especulativa.

Anónimo disse...

Um dos mais belos poemas que já li! Parabéns.