terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Olhar o Mundo como Arqueólogo


Para o autor deste livro, o “mundo” que rodeia o arqueólogo não é um conjunto de sinais, de restos ou vestígios, que, uma vez descobertos, revelariam pouco a pouco “o passado”. O arqueólogo não “descobre” esse passado (como quem destapa algo coberto por um véu), mas constrói uma narrativa que permita perceber (tornar inteligível) a historicidade dos sítios e das paisagens, e dar sentido memorial às materialidades que os pontuam.
Essa narrativa submete-se às regras da verificação, mas não deixa de ser, deliberadamente, uma construção do aqui e do agora, uma perspectiva. A metodologia arqueológica consiste em combinar certas técnicas das ciências naturais, e em geral das ciências da observação, com questionários das ciências sociais e humanas, tanto na vertente espacial, como diacrónica destas. Ela mostra-nos, em última análise, que cada sítio é um sítio, cada experiência uma experiência, e que toda a teoria generalizante (por ex., a “grande história”) é necessariamente redutora. Ambicionando embora, também ela, encontrar regularidades tão amplas quanto possível, a arqueologia é capaz de fazer-nos descer à micro-escala, e repor a inquietante pergunta que cada local parece levantar: que é que aconteceu aqui?

Coimbra, Ed. Quarteto, 2003

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