quinta-feira, 20 de março de 2008

tanta coisa

A nossa maneira de pensar/sentir/conceptualizar (mesmo na vida comum) tem horror ao vazio: é classificatória, totalitária, masculina (mesmo quando o não parece) e procede por analogia. Qualquer ferida ou chaga, qualquer abertura, é uma “referência” mais ou menos implícita (um análogo d’) à vagina e deve ser obturada pelo falo. Toda a ordem está fundada num equilíbrio que consiste num pensamento da união, da conjugação, do fechamento, da obturação, da contenção da “hemorragia” (do imprevisível, do derrame) pela ordem do penso, pela estabilização do sentido. O rio, a cheia, o fluido, o côncavo, o oco, ordenada pelo sólido, pela barragem, pela intervenção reguladora, “médica”, pela prótese. A polaridade do masculino e feminino, a união dos dois pólos no hermafrodita, o seu esquecimento no orgasmo. Os próprios “sodomitas” (como antigamente se chamavam) sempre inscreveram os seus corpos nesta regra geral da completude, do acoplamento, da conjugalidade. Não "subverteram" nada: estiveram apenas na margem da ordem, contribuindo para o seu ordenamento como margem, como moldura.
Representacionismo. Logocentrismo, ordem do casal, representação como vontade de recuperação de uma apresentação (como perda), ou ainda possibilidade de uma representação como como nova apresentação: o problema desse prefixo re- que aparece em “representação”.
Platão, Aristóteles, Heidegger, Deleuze, Derrida, Latour – autores que é preciso ler para pensar isto. Transbordante para quem não é filósofo....
Isto tem a ver com a chamada “recuperação do passado”.... com a performance e a encenação... com tudo. Com a poesia, se esta não quiser ser apenas uma decoração, mas um trabalho consequente com a linguagem.
Angústia da falta de tempo.

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