sábado, 26 de maio de 2007

afinal


afinal foi tudo um equívoco.

tu de facto estavas lá.
havia uma saída para o mar.
e a tua imagem indicava a direcção precisa.

e estavas natural, sem mistério algum,
as tuas brechas eram as das rochas,
as fissuras que há tanto tempo abrem e fecham
conforme são mais ou menos impregnadas
pela maresia e espuma,
pela matéria líquida
de que se faz, e fez também,
o nosso encontro, por acaso
desencontrado.

e estavas esticada, tão estendida
como pode estar a minha morte,
com toda a sua disponibilidade à minha espera

para me levar de novo
para dentro das rochas,
ganhando a rugosidade do fóssil,
vendo o sangue tornar-se azul,
voltando à geologia contigo,
ao marulhar eterno das vagas.

voj 2007


Foto: Jim Furness

reprod. aut.
Fonte: http://www.jfphotography.net/

2 comentários:

Emanuela Duarte disse...

a imagem foi escolhida antes ou depois de escrever o texto? é que o conjunto imagem/texto está simplesmente perfeito...
gostei!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Tinha já respondido, e não sei por que é que o comentário não aparece.
Tenho uma colecção de imagens escolhidas, e quando posso e me aeptece escrever, escolho uma. Mas gostaria que os textos se agientassem sem as imagens... claro que para isso terão se ser reformulados. As coisas a publicar um dia (el livro) só ganham com a espera... mas o blog vale por si... e ainda bem que vale também para si! Continue a dizer coisas, sff...