sábado, 29 de novembro de 2008

desfalecerias



se tu pudesses ver
a minha face não visível
aquela que apenas pressinto

se tu pudesses contemplar
as minhas paisagens interiores
desfalecerias

a uns milímetros da face
que só pressinto
sentirias esse deserto
que continua no céu
e este no cosmos

essa orla de estrelas
essa coroa de pétalas de púrpura
sentirias os diamantes
entre o estômago e o baço

se tu pudesses ver por mim
o deserto que a cegueira me impede
desfalecerias

ante as estátuas verticais
levitantes
ante um mar de dunas
que continua noutro mar de dunas
e noutro, e noutro, e espalha
a sua poeira última, amarela
no cosmos

se tu pudesses segurar
por um minuto que fosse
a coroa para que caminho

e que eu próprio não sei onde está
desfalecerias

cultuando as sandálias
desenhando o trajecto
desenhando de forma nítida a minha face
invisível

o esplendor inimaginável
da face inexistente
o som que vem das paredes
do fundo do tempo, os tambores do cosmos

onde eu próprio desfaleço e desmaio
ante o Prenúncio do que não sei
nas Asas Azuis magníficas


_________________________
Texto: voj porto novembro 2008
Imagem: Cecilia Paredes (gentilente cedida pela autora)

6 comentários:

Beatriz disse...

Sexta-feira, 28 de Novembro de 2008
Súbito



É o olhar.
Ele se perde
Nas gotas gordas e moles.
Depois se joga
E explode desencanto na calçada
Desta tarde que chove e me invade

Vitor Oliveira Jorge disse...

Mas enquanto a gota de água não atinge a calçada para explodir,
é magnífica no ar!
V.

V. disse...

Ainda que pudesse ver tudo o que não se vê dificilmente encontraria o segredo que habita em nós...Há coisas que estão dentro dos olhos.

Vitor Oliveira Jorge disse...

O segredo, sim, que para nós mesmos o é.Mas ainda bem. Se víssemos tudo (?!)seríamos Deus, e não sei, mas ele deve estar cansado da eternidade. É melhor descobrir coisas terrenas,imaginar que nos olhos que nos olham estão os meus olhos olhando-me a mim. Conforto narcísico.

Anónimo disse...

Sem dúvida!... se... se... se...
Já não se perde (ganha) tempo a comtemplar os outros... Muitas vezes nem a nós próprios... Vivemos de gritos mudos.
Adorei o poema!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Gracias.