domingo, 27 de janeiro de 2008

Sobre o que eu queria dizer na minha postagem de 15 de Janeiro...e que teve 69 comentários...

Aconselho o texto:

Writing About Desire

por

Catherine Belsey

ler em:
http://www.arts.gla.ac.uk/sesll/STELLA/COMET/glasgrev/issue2/belsey.htm

3 comentários:

Anónimo disse...

"Sobre o desejo..."

Achei o texto difícil, difícil de seguir a narrativa, de perceber os sentidos, de perceber o objectivo....
Acho que se desvia do assunto, quer dizer, não fala em actividade sexual e muito menos em saudável. Fala em desejo sexual afirmando que este é o único que temos, quer dizer todo o desejo é sexual. Apesar da autora possuir imensos livros na matéria, ser uma consagrada investigadora e portanto ter-se debruçado neste assunto muito mais do que eu acho redutora a noção que todo o desejo seja sexual, independentemente de Freud e outros como ele.
Achei de mau gosto citar livros de histórias de amor como "E tudo o vento levou", estudando livros populares e dizendo que estes continham a verdadeira essência do desejo e simplesmente passar à frente um autor inglês absolutamente maravilhoso como foi D. H. Lawrence. Um autor ao qual foi proibida a publicação dos seus livros por serem "obscenos". E o que é interessante é que ele simplesmente falava de relações heterossexuais fora do comum, como no amante da Lady Charlotte em que ela se envolve com um homem de uma classe baixa do que a dela.
Dizer, como disse a autora, que no passado o amor era mais fácil porque simplesmente as pessoas não estavam imbuídas deste espírito moderno tão critico, tão desagregador é simplificar a questão. Dificuldades em amar livremente (se podemos falar de tal coisa) o ser humano sempre teve, talvez seja essa a condição natural de amar. Dizer que o amor era mais fácil para o grego ou romano fez-me rir de tanta ingenuidade. Quando sabemos que as relações eram pautadas por "contratos" casamentos que podiam destruir por completo qualquer ambição à "felicidade" a afirmação da autora é no mínimo infeliz. Neste assunto nem sequer precisamos de ir muito longe no tempo, ainda há pessoas que tiveram casamentos arranjados e se hoje falamos de infelicidade quando o companheiro/a não é aquilo que imaginamos acho que a obrigação de casar com alguém é bem pior.
Mas num aspecto estou de acordo com a autora talvez não exista um amor saudável porque talvez a sua condição seja não o ser.

Patrícia Amaro

Vitor Oliveira Jorge disse...

Esta autora é interessante. Entrei em contacto com ela e teve a amabilidadde de me enviar um outro texto, esse sim, um pouco difícil. Este sobre o desejo não achei difícil, até porque segundo me confirmou é uma espécie de esboço do livro que ela publicou com o mesmo título.
Ela não pretende confundir desejo com desejo sexual, que é apenas uma parte daquele... embora muito importante, é claro; e por outro lado não deve passar-lhe pela cabeça falar em sexo saudável, que (como eu dizia na minha postagem de 15 de Janeiro) é uma forma de esterilizar o sexo, ou seja, de fazer dele um instrumento, e portanto uma ideia (para mim) detestável, funcional, castradora. Como você também refere de certo modo no fim do que escreveu.
A autora explica em primeiro lugar qual o material que vai utilizar para estudar a história do desejo, que é objectivo do livro. Claro que só hoje se poderia fazer tal história, porque só depois da psicanálise se poderia pensar nestes termos e historiar uma realidade como "o desejo".
Creio que hoje estamos dominados por uma série de ideas que não pensamos criticamente, no dia a dia.Felicidade, amor, sexo,liberdade andamos obcecados com isso e com a ideia do amor romântico ou pelo menos do amor como tábua de salvação... Conhece o Lacan?... é muito interessante ao dizer que a relação sexual é impossível. Claro que isto tem de se compreender no contexto da sua teoria e das suas metáforas que o tornam um autor, esse sim, mito dificil. Mas a sua dificuldade, ou o seu estilo até pessoal de falar (que se vê nos videos, por ex, até no you tube há uns extractos) eram ainda uma forma de ganhar distância, se bem entendo - de negar qualquer identificação entre analisante e analisado, como se ambos interagissem ara chegar a um consenso. Lacan tinha isto de genial: percebeu que a realidade é um jogo infinito de espelhos, que o ENCONTRO nunca se dá. É uma obsessão metafísica nossa, se tomarmos encontro como identificação de dois seres. Aliás, é da experiência e sens comum: quando uma pessoa se envolve profundamente com alguém, há aí m apelo, uma pulsão de morte, do outro e de si mesmo, um desejo de fusão que, felizmente !!! nunca se dá. Nós soms seres da frustração e seres para a morte, como dizia o Heidegger, mas isso não ns torna infelizes... é isso que permite a nossa felicidade, a nossa historicidade, o nosso ser! Somos incompletos e incompletáveis.

Anónimo disse...

"Lacan?!"

O meu interesse em psicanálise é quase nulo, por isso não conhecia Lacan. Felizmente existe internet e muita informação disponível. Encontrei dois sites com a obra completa de Lacan, um em francês e um em brasileiro com os seminários disponíveis para download.
A um primeiro contacto não fiquei nada fã, de facto deve ser dificílimo de ler, principalmente para quem não está habituado a ler textos dentro da psicanálise. E por outro lado li alguns extractos de seminários e achei um piadão a afirmação que os filhos são para as mães como "falos" que lhe faltam. Realmente só pode vir de um homem uma afirmação destas.... Todos os autores em determinados aspectos são estranhos, por um lado revelam grande inteligência mas por outro roçam a grosseria. Tal como Nietzsche no seu anti semitismo primário.
Em relação ao autora eu percebi que o texto dela era um esboço para um livro e talvez por isso o texto seja um pouco caótico a nível da narrativa. E também não concordo que a essência do desejo se plasme em apenas alguns livros que a autora criteriosamente escolhe. Obviamente que faz uma escolha consoante os seus objectivos e aquilo que acredita, logo, como em tudo a escolha está viciada de inicio. Mas não há nada como esperar pelo livro.

Patrícia Amaro