segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

sobre a agonia dos dias


Quando, mesmo por razões ditas muito ponderosas, se estiola nas pessoas a alegria de viver, não há programa de "desenvolvimento" ou de reforma que vingue.

Quando não se dá às pessoas uma esperança, uma liberdade de errarem e de se corrigirem, quando se pretende modelar tudo de forma obsessiva, as pessoas reagem, ou pela violência, ou pela resistência passiva.
A criação de demasiados automatismos e sistemas irreversíveis, a não possibilidade de redenção, de correcção de um suposto erro transformado em estigma, destrói o indivíduo fraco e faz do forte um rebelde destruidor, potencialmente agressivo.
Quando se quer modernizar tudo à pressa, passando por cima das pessoas como cilindro compressor, a primeira reacção destas é tentarem adaptar-se; mas se a pressão se torna demasiada, quem a pretende impor está condenado, cedo ou tarde, ao fracassso absoluto.
Há muitos autistas (e o poder cria um certo autismo, neste sentido metafórico) que obviamente não percebem nada da complexidade do ser humano e não deviam estar à frente de cargos de decisão importantes. São miúdos grandes a brincar com o fogo e a fazerem-se muito sérios.
Mas também é preciso reconhecer que quem está nesses cargos é sujeito a tal pressão que não tem tempo nem espaço para a auto-crítica, isto é, para amadurecer. Antes, se tem algum êxito, tende a acentuar os defeitos, que confunde com determinação e com coragem.
Viver sem alegria é arrastar um cadáver adiado, tanto ao nível pessoal, como colectivo. Cada dia passado com alegria é uma vitória contra os burocratas que nos pretendem asfixiar com elegência, educação, modernidade. Não há pior assassino do que aquele que sorri simpaticamente, ser afectar qualquer perturbação, para a sua vítima na agonia.


3 comentários:

Anónimo disse...

Concordo.
Mas só se "destrói o indivíduo fraco" porque este prefere ser anulado em vez de reagir. Uns dividem para governar e outros, avessos à união, são uns eternos fracos.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Sim, mas a questão é complexa e o meu apontamento foi escrito à pressa... quem conhece a minha vida até se admira como é que consigo manter este blogue... dormindo pouco! Mas tenho prazer nisto...

Anónimo disse...

Em total desacordo com o anónimo. Não são eternos fracos; afastam-se da tirania porque a abominam. Quem exerce o poder dos tiranos é sempre cruel. "Não é possível exercer o poder sem que a crueldade intervenha como uma espécie de elixir da longa vida. Ela tem razões para fazer durar o que parece efémero, e que é o poder dos homens".

AGUSTINA IN SEBASTIÃO JOSÉ