quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A responsabilidade

Ao pensar na responsabilidade veio-me à mente a seguinte parte do Gita:

"Considerando, também, a sua condição enquanto guerreiro, você não deve hesitar, porque não há nada mais auspicioso do que alguém realizar a sua responsabilidade na vida. (2.31)
Somente afortunados guerreiros, Ó Arjuna, recebem semelhante oportunidade para uma guerra justa contra o mal, que é como uma porta aberta para o céu. (2.32)
Se você não lutar nesta batalha do bem sobre o mal, você irá fracassar no seu dever, perderá a sua reputação como um guerreiro, e incorrerá em pecado por não realizar a ação correta. (2.33)
As pessoas irão falar sobre sua desgraça por um longo tempo. Para o ilustre, a desonra é pior do que a morte. (2.32)
Os grandes guerreiros irão pensar que você fugiu do campo de batalha por medo. Aqueles que muito te estimam irão perder o respeito por você. (2.35)
Seus inimigos irão falar muitas palavras com desdém sobre suas habilidades. O que poderá ser mais doloroso para você do que isto? (2.36)
Você irá alcançar o paraíso se matar no cumprimento de sua obrigação, ou você gozará o reino da Terra se vitorioso. Nada acontecerá se você vencer. Portanto, erga-se com determinação para lutar, Ó Arjuna. (2.37)
Engaje-se da mesma forma, no manejo da luta, no prazer ou dor, ganho ou perda, vitória e derrota, no seu dever. Por fazer sua obrigação deste jeito você não irá incorrer em pecado. (2.38)"

Bhagavad Gita a partir da tradução de Ramananda Prasad. Tradução para português por Swami Krishnapriyananda Saraswati, (Dr. Olavo O. Desimon)

Para quem não conhece este diálogo dá-se entre Krishna e Arjuna. A cena passa-se num campo de batalha e envolve o dilema de Arjuna de combater ou retirar-se. Esse dilema não tem a ver com a disposição das forças do terreno. O problema de Arjuna está em seguir o preceito da não-violência ou violá-lo. Krishna surge-lhe para ajudar a resolver esse dilema de modo a que Arjuna possa cumprir o seu dever (paradoxalmente o dever é o de guerrear).
Surge assim espaço para o debate sobre o "Dever Maior" que acompanha grande parte das ideologias. Dado que falamos em ideologias aconselho a que vejam alguns textos de Slavoj Zizek, nomeadamente este.

1 comentário:

Anónimo disse...

A dificuldade de estudarmos textos em vez de objectos reside nas suas múltiplas interpretações. Ainda que um objecto seja pleno de subjectividade ele é matéria na medida em que existe e o podemos tocar. As palavras são palavras e podemos sempre distorcer ou não compreender o seu significado. A batalha de Arjuna é questionável, pois alguns pensam que é apenas uma batalha interior visando a iluminação e outros a olham como uma batalha física, a guerra. Por isso não sei bem como descodificar este texto, este dever de Arjuna. Se devemos olhar este poema épico de uma forma arqueologica, dentro de um tempo, escrito por humanos e para humanos e portanto pleno de humanidade ou se devemos olhar para ele como um texto religioso e tentar compreender os sentidos num sentido mais próximo da divindade. Este grande épico é de facto fantástico, tem muitas histórias interessantes que me parecem metáforas, por isso não sei se este diálogo de Arjuna, tão conhecido será de facto tão linear.