sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

tremura

a giorgio agamben



Um corpo que se apresenta em pijama,

Uma mão para cada lado estendida na vertical,

Não aparece como nu, como a aparição

Absoluta.


Mas ocorre num limiar:

Entre a sala e a câmara de dormir,

Entre o calçado e o descalço,

Entre a realidade e o sonho.


Um corpo que se apresenta em pijama

Apresenta-se pois semi-nu. Vertical,

Vai recostar-se, expor-se às sombras

Que habitam a noite da casa:

As mãos caídas para se entregarem ao sono.


Um corpo assim não pode ter rosto.

O rosto, lugar da exposição da nudez,

Não pode desdobrar a semi-nudez do corpo.


Sim, para que a sugestão de entre dois momentos

Passe, para que o corpo possa ainda

Salvar-se como aparição, ele precisa

De ter já a cabeça sobre a bandeja da sala.


E expor-se degolado. Em pijama que o segura.

Em mãos que o emolduram, deitadas.


Assim vai em toda a sua formosura

E insegurança. Em toda a sua mais subtil

Tremura.




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foto: s.r. (a quem agradeço)
texto: voj porto 25.12.09


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