terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A variabilidade (relatividade) dos valores...

Quando era estudante universitário em Lisboa, e não tinha espaço para trabalhar em arqueologia, para me isolar e investigar, guardar materiais e livros, fazer reuniões, etc (sempre o mesmo problema!), um amigo meu, Vasco Salgado de Oliveira, de quem nunca mais ouvi falar (olá, Vasco, que é feito de ti ??!!) arranjou uma solução. O pai cedeu-nos a cave de um prédio que possuía, perto da Casa da Moeda. Aí escrevi alguns dos meus primeiros trabalhos.
Era um grupo informal.
Um dia tínhamos marcado uma reunião de trabalho para estudar uma peças arqueológicas com um outro elemento do grupo, que nunca chegou a aparecer. Uns dias mais tarde, na Faculdade, disse-nos: "É pá, desculpem lá, mas tive de ir com a minha mãe às compras à Baixa..." (era o grande centro comercial na altura...). Eu e o Vasco, um tipo inteligentíssimo e culto, que tinha uma biblioteca fabulosa, ficámos a olhar um para o outro, como quem diz. "Este não tem remédio. É outro mundo de valores... então nós temos de fazer e assinar os três um trabalho fundamental para a nossa vida académca, e ele vai às compras com a mãe, sem nos dizer nada?"
Na minha ingenuidade, eu não sabia que viria a encontrar na vida muitas pessoas assim. Aquele que faltou era um tipo óptimo, cheio de qualidades, até artísticas. Mas tinha-se virado definitivamente noutra direcção. Onde andará ele, Vasco, que terá feito? Interpelo eu alguém com quem convivi muito na segunda metade dos anos 60...

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