domingo, 28 de dezembro de 2008

Entrevista de José Gil ao "Correio da Manhã" de hoje

Vale a pena ler. Esta postagem não implica qualquer concordância ou discordância da minha parte relativamente ao conteúdo da entrevista. Apenas que vale a pena ler.

http://www.correiodamanha.pt/Enviar.aspx?channelid=00000229-0000-0000-0000-000000000229&contentid=7A4A4E20-5CBE-4341-930B-39C447E29E66

4 comentários:

José Manuel disse...

Voltamos sempre ao ponto de partida, como a história do individuo que perdido no deserto, sem intrumentos de referência, reconheceu após caminhar vários dias que tinha voltado ao ponto de partida. Portugal após 30 anos a caminhar está-se a aperceber que está a regredir até ao ponto de partida.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Creio que há que cada um procurar fazer o melhor possível, num esforço acrescido, e com os seus próprios meios, perante a situação degradada e degradante que se vive no mundo, e em Portugal em particular. Estamos todos irreversivelmente desencantados perante o "surrealismo" do que se passa hoje no mundo e no nosso pequeno rectângulo. José Gil faz bem em claramente dizer que a herança das várias décadas de Salazar está presente.Não se pode ver os fenómenos a curto prazo. Mas eles afectam-nos de facto no curto prazo, cada vez mais gravemente. Creio que há que evitar fatalismos ou essencialismos, do tipo de que Portugal não tem viabilidade. De facto, olhamos hoje (todos, e não só as pessoas mais informadas) para o espectro político completamente desesperados, e conscientes de que nenhuma entidade nos merece qualquer tipo de confiança, tudo se reduzindo de forma óbvia a jogos de pequena monta e a um jogo de sombras que leva o ambiente político ao seu grau 0. Já nada esperamos de bom.E isso é muito triste no começo de um novo ano. Nada temos para celebrar, nada temos para nos animar. Apenas cada um, ou cada grupo de amigos/colaboradores, pode contar com as suas forças, atravessando a longa noite cuja manhã não se vê quando seja. Os políticos de qualquer espaço do espectro não percebem isto, não percebem que hoje os media transmitem deles imagens que já não são aceitáveis nem verosímeis, imagens que nos provocam distância, retraimento,mesmo em certos casos uma imensa fadiga e repulsa.Imagens que são a reiteração cansada (e por vezes mal disfarçando certo despeito, em máscaras televisamente mortais) por não poderem impor a sua vontade. É terrível. Não temos confiança em nada nem em ninguém. Estamos nus, e a ter de sobreviver.É uma miséria.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Na mensagem anterior, surgiu um erro: queria obviamente dizer "televisivamente".

Anónimo disse...

A escola, quando eu tinha 10 ou 15 anos, era uma mistura de escola-encarceramento e de escola-discussão. Variava com as professoras ( eu andei num liceu feminino, em Lisboa, o D. Filipa de Lencastre ).

Na maior parte dos casos a escola era
um lugar de coerção, de vigilância...à moda das escolas das sociedades...que o Foucault chamaria... DISCIPLINARES. O sufoco era total. Jurei que nunca mais me sujeitaria aos horários
disciplinares do liceu depois de sair de lá.
Mas, por vezes, aparecia uma professora que "furava" o esquema. O sistema alimentava-se destas aparentes
excepções à regra: a minha professora de ciências naturais dos primeiros anos...ou uma fabulosa professora de História que tive durante 5 anos, até sair do liceu, faziam entrar a discussão, a argumentação,como formas de aprendizagem, quer dizer, como formas mais eficazes de CONTROLE.

A Universidade marcelista também era, no seu intrínseco desmoronamento como instituição disciplinar, uma curiosa mistura, nos inícios de 70, de espaço de constrangimento e de espaço de pseudo-discussão. Na verdade, não se discutia grande coisa: tentava-se impedir a ordem autoritária...com palavras- de -ordem e linguagens corporais dissuasoras..mas a discussão ainda não era possível.

A Universidade democrática forneceu pela primeira vez algo aparentemente libertador: a discussão, o "diálogo", a contra-argumentação. Vivi os últimos 30 anos como professora duma "universidade do diálogo". Trinta anos em que se passou por inúmeras experiências de "diálogo". Não posso estar exactamente de acordo com o Zé quando ele
diz que" se regrediu até ao ponto de partida." Nem em geral nem no que se refere à escola. Não acho.
A democracia fez-nos entrar aos poucos e sem que sempre o tenhamos plenamente sentido... como uma inevitabilidade... numa sociedade verdadeiramente do sec. 20 : uma SOCIEDADE DE CONTROLE...de que tão bem nos fala Deleuze. A discussão...em que quase tudo se pode dizer...porque, de facto, nada fere minimamente o sistema, porque tudo o que se diz serve absolutamente o sistema, é a arma mais expressiva da sociedade do controle! A discussão na Universidade, dentro e fora da sala de aula, operou como um fantástico mecanismo de legitimação e branqueamento do sistema de vida contemporâneo! Não só não tem nada, em si mesmo, de libertador- no sentido de desatar amarras- como serve simultaneamente de amplificador da ideologia vigente e de escape emocional dos seus actores. O ritual da discussâo na escola contemporânea é o lugar da propaganda da nossa sociedade de controle! Onde tudo, a começar pela nossa respiração, se encontra sob controle, e onde tudo- como a mais pequena "rebeldia" verbal....a mais pequena "crítica"- é deglotido vorazmente pelo estômago...pelo estômago de cada um de nós. Cada um de nós está aqui como vítima e algoz da sociedade de controle. Não se ouve o estômago a trabalhar?...

É bom que a discussão não degenere em desordem. Para isso existem muitos métodos de auto-controle. A escola do controle visa também fornecer a todos os que a frequentam a aprendizagem do entusiasmo pela discussão auto-controlada. A discussão civilizada....a discussão saboreada..pela gestão implacável do se chama" pluralidade".

Existe alguma forma de resistência?

Depende do que se entende por resistir. Em todas as épocas os criadores existiram. São eles os resistentes? Digam-me vocês!