terça-feira, 23 de setembro de 2008

Giorgio Agamben, um dos mais fascinantes pensadores contemporâneos


No seu livro, já citado neste blogue, Il Regno e la Gloria. Per una genealogia teologica dell' economia e del governo
. Homo Sacer, II, 2 (ISBN 978-88-545-1069-0), faz toda uma explanação sobre as implicações teológicas do termo "oikonomia"; mas é obviamente muito mais do que isso - é uma obra capital de filosofia política, crucial para compreender a especificidade da nossa cultura ocidental. As antiquíssimas raizes do poder e da soberania tal como são concebidos por nós, nas nossas "democracias"...
Foi editado no ano passado (2007) por Neri Pozza Editore, Milão, na colecção "La Quarta Prosa", por ele aliás dirigida.
Aspecto marginal mas extremamente interessante: este livro é autorizado pelo autor a ser reproduzido livremente desde que seja sem fim lucrativo (ver ficha técnica). Não posso deixar de simpatizar com esta atitude, numa altura em que tudo se tornou uma mercadoria.
Deixo aqui apenas um "cheirinho" sobre o que é a limpidez e a beleza (é onde a filosofia se confunde com a "grande arte" que, sim, malgré tout, existe) de um pensamento como este, que transcrevo das pp. 157 e 158 (sublinhados a vermelho meus):

"La providenza (il governo) è ciò attraverso cui la teologia e la filosofia cercano di far fronte alla scissione dell'ontologia classica in due realtà separate: essere e prassi, bene transcendente e bene immanente, teologia e oikonomia. Essa si presenta come una machina volta a riarticolare insieme i due frammenti nella gubernatio dei, nel governo divino del mondo.
(...)
"Nell' oikonomia cristiana, il dio creatore ha di fronte una natura corrota ed estranea, che il dio salvatore, a cui è stato dato il governo del mondo, deve redimere e salvare, per un regno che non è, però, "di questo mondo". Il prezzo, che il superamento trinitario della scissione gnostica fra due divinità deve pagare, è la sostanziale estraneità del mondo. Il governo cristiano del mondo ha, peer conseguenza, la figura paradossale del governo immanente di un mondo che è e deve restare estraneo."
(...) l' essenziale è che si governa un paese - e, al limite, la terra intera - restando a esso del tutto estranei.
"Il turista, cioè l'extrema reincarnazione del peregrinus in terra cristiano, è la figura planetaria di questa irreducibile straneità al mondo. (...)
"Il pellegrino e il turista
sono, cioè, l'effeto collaterale di una stessa "economia" (nella sua versione teologica e in quella secolarizata."

É impossível - tanto mais que não nem sou filósofo nem domino bem o italiano, e ainda estou a absorver este livro - dar aqui uma ideia da importância desta obra, verdadeiro assombro perante tanta banalidade com que nos empapam no dia a dia, nomeadamente pomposos "opinion makers". O leitor atento deste excerto perceberá o que quero dizer: que é importante ler esta obra, e não vale a pena esperar por uma tradução, tal como está o mercado português do livro... com honrosas excepções!


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