domingo, 28 de setembro de 2008

entre




Nunca te eximas a fazer
A curva para a qual
O teu desejo te inclina.

Quem sabe se o que a curva esconde
É o que sempre procuraste!

As curvas são feitas para isso
Para nos colar ao momento seguinte
E como gatos espetarmos o focinho
Nessa procura obsessiva.

Quantos grãos de areia
Teremos de pisar
Até os sapatos finalmente
Repousarem com o resto do corpo
Exausto.

Quantas árvores aparecerão
Nos caminhos, quantas fachadas
Perguntando-nos:

onde vais?


Para onde quero, rigorosamente
Para onde quero, eis a tua resposta
Às folhas, aos troncos, aos trabalhados
Painéis de mármore, às centradas estátuas.

Pois tudo o que procuro é a soberania
De poder virar uma curva
Quando e como possa

Como se fosse um cavalo ajaezado,

Uma pérola preciosa do tamanho
Do universo,

um rei brilhante.


É essa a glória do texto, o assombro
Das cúpulas, a agonia deliciosa
De estar imediatamente antes
Do que vem imediatamente depois.

E poder dar um passo entre.
Pisando grãos de areia
com aquele ruído característico.








texto e fotos (serralves, porto) voj setembro 2008

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