segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Seg. a Ciência Hoje, revista electrónica

Alice Samara conta histórias de mulheres que lutaram pela sua emancipação

2007-09-23
Maria Veleda
Maria Veleda
Adelaide Cabete
Adelaide Cabete
Regina Quintanilha
Regina Quintanilha
Alice Samara
Alice Samara
A historiadora Alice Samara conta as histórias de vida de mulheres que nos alvores da República falaram mais alto em defesa da sua emancipação, no livro "Operárias e Burguesas", a editar na próxima semana. A obra, com a chancela da Esfera dos Livros, resulta como uma galeria de mulheres que se destacaram na sua época, "mas não é um retrato do universo feminino", explicou à Lusa a autora.

"Estas mulheres correspondem ao pequeno grupo daquelas que sabiam escrever, que deixaram memórias, que escreveram livros, e sobre as quais escreveram outros, nomeadamente homens, dada a sua notoriedade. A grande maioria está ausente", reconheceu a historiadora.

Ao longo do livro desfilam mulheres como Maria Veleda, "a mais vermelha e radical que participou e discursou nos comícios republicanos", Maria Alves, a actriz cuja trágica morte apaixonou Lisboa nos anos 1920, ou a escritora Guiomar Torrezão a que Samara dá o cognome de “a operária das letras”.

“Na frente da Torrezão, escreveu nas suas ‘memórias’ a actriz Adelina Abranches, todos diziam bem mas que nas suas costa metiam a faca até ao cabo”, afirmou Alice Samara. Segundo a investigadora Torrezão foi a mulher mais ridicularizada pelos jornais humorísticos da época, mas recolheu também “apoios de peso” como o ficcionista Fialho de Almeida.

Das 12 mulheres biografadas, entre elas, Ana de Castro Osório, "a doutrinária do feminismo", foi uma marginal, "Maria-rapaz", que apaixonou a historiadora. "Maria-rapaz" de quem nunca se sabe o nome, nasceu em 1908, ainda reinava D. Carlos. Apesar de não ter barba "ia todos os dias passar a navalha pelo rosto" e fez uma vida só possível aos homens, entrava nas tabernas, tocava o fado à guitarra, fumava, bebia, "namoriscou" e "andava pelas ruas até altas horas da noite".

Presa por furto

O seu "segredo" só foi descoberto quando foi presa por furto, depois de ter exercido várias profissões sempre envergando indumentária masculina. Alice Samara afirmou que foi a partir da descoberta, entre a documentação que consultava, do relatório policial do Chefe Costa sobre a "Maria-rapaz" que ficou "de pulga atrás da orelha" para investigar outras mulheres.

Aliás, na mesma época, surgiram no país outros casos, nomeadamente da "Mulher-Homem de Avintes" que foi caixeiro no Porto e que acabou por ser descoberta, e casar com o filho do patrão. "É provável que até tenham existido mais, mas não chegou o seu eco até nós através da documentação que dispomos. O lado marginal, além do dramatismo que desponta e logo é esquecido, não produziu muita documentação. Há casos avulsos nos jornais como o da 'Amélia faquista' ou da 'mãe desnaturada'", disse Alice Samara.

De todas as mulheres biografadas, entre elas a romancista Adelaide Cabete, Angelina Vidal, Regina Quintanilha ou Carolina Beatriz Ângelo, a preferida da historiadora é a Maria-rapaz. "A Maria-rapaz é o melhor exemplo de como numa sociedade as fermentas e o domínio estão nas mãos dos homens, o que leva a uma mulher ter de se transformar para ter a sua liberdade. Foi a que mais me comoveu", declarou.

Nem todas eram republicanas

Nem todas as mulheres biografadas foram republicanas, "algumas sim, mas outras não expressavam opinião nesse campo, defendiam sim, a sua emancipação". "Do lado monárquico, o feminismo é exercido mais pela via caritativa, na sua forma mais convencional, sem nunca beliscar o papel tradicionalmente dado à mulher", esclareceu.

Este tipo feminismo levou a "intrépida" Maria Veleda a qualificar as suas congéneres monárquicas de "feministas de sacristia". Intitulado "Operárias e burguesas. As mulheres no tempo da República", o livro "está longe de esgotar o tema, sendo apenas "um afloramento", disse a autora.

Quanto à escolha do título, "não pretende ser redutor, mas antes entendido como os dois pólos entre os quais as mulheres daquela época se movem".

Alice Samara está a realizar o doutoramento em História da I República na Universidade Nova. Em 1998 editou "Sidónio Pais, fotobiografia do século XX". Em 2003 recebeu o Prémio Fundação Mário Soares pela sua dissertação académica "Sob o signo da guerra. Verdes e vermelhos no conturbado ano de 1918 que publicou com o título "Verdes e vermelhos. Portugal e a guerra no ano de Sidónio Pais". Em 2005 publicou uma biografia de Sidónio Pais pela Planeta di Agostini.

Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=23619

6 comentários:

ventanavioleta.com disse...

hola primero lees español?, somos mas mujeres que quizas no escribamos , pero luchamos a diario por la emancipacion y discriminacion un slaudo de chile , un pueblo con aspiraciones de ciudad llamado talca

Joana Serrado disse...

Isto esta a animar...

José Manuel disse...

E já agora, da mesma época, mas fora de Portugal, que se destacaram não apenas na luta dos direitos das mulheres, mas de toda a humanidade como Clara Zetkin e Rosa Luxemburgo.

Joana Serrado disse...

E a Catarina Eufemia....

Anónimo disse...

Tratado malandreco??????

Vitor Oliveira Jorge disse...

Claro que leio espanhol. Un saludo desde Porto e continuem a visitar o blogue.Façam links para o meu nos vossos blogues, um dos quais é bastante atrevido."É sempre a abrir" como se diz aqui...
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o josé manuel é uma pessoa inteligente mas aqui há outro apelo... o da festa!