domingo, 22 de maio de 2011

poema

súplica frenética de magritte quando se volta ao avanço plano da onda pela areia molhada





as ânsias sobem do tapete

sob a mesa da leitura,

e pelas pernas acima vêm

bocas, murmúrios, memórias,

toda a invasão lenta

dos ardores.

tudo se concentra

na tulipa escarlate

que subiu

até ao tecto, e arde.

arde.

enorme,

como só magritte sabe.

e por isso

à beira do mar desmaiam

as pernas enormes,

deitadas, abertas em v,

suplicando ao horizonte,

às ondas

e às marés,

e às suaves anémonas,

ao seu ondulado silêncio

à sua sucção azul,

que venham urgentes

dar uma pausa de água,

um bálsamo de azul e saliva

uma imersão pacificadora

ao prolongado tormento.

rastejantes, até ao sexo,

como a aproximação gentil da vaga

como a aproximação invisível,

tão suave, tão incrivelmente suave

do consolo supremo, e afinal

tão simples e antigo:

é que são insuportáveis estas agulhas

estes ponteiros bicudos

dos relógios implacáveis

quando,

por debaixo da mesa de leitura

vêm, inadvertidamente,

cruelmente,

traçar assim lado a lado

como alfinetes

a extrema sensibilidade dos genitais.







voj

maio 2011, porto

3 comentários:

Cláudia Cláudio disse...

Brutalíssimo...

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado !!!!!!!

Ana Paula Fitas disse...

Fora de contexro, meu bom amigo, mas,sempre com toda a admiração que me merece a Poesia, permita-me que lhe sugira a leitura do post que acabei de inserir sob o título: "Por favor não matem o Alentejo ou, parafrasenado alguém: «É a Cultura, Estúpido»"... onde faço referência a uma das obras mais magníficas que li em língua portuguesa sobre o tema e que é... da sua autoria :))
Um beijo.