quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

o fragmento





" a sua leitura é uma arqueologia: leitura de vestígios, intuição de marcas deixadas no seu corpo, mas que remetem para instâncias exteriores a ele. O vestígio, lembra Quignard, tem a mesma etimologia de "investigação". A investigação do leitor de fragmentos orienta-se no mesmo sentido do perdido, de uma origem (que em Novalis, paradoxalmente, está no futuro). O leitor de fragmentos, leitor por excelência melancólico e de olhar alegórico, é, numa bela expressão, quase intraduzível, de Pascal Quignard, frappé d'origine (tocado pelo sopro das origens?). Como aquele que os escreve, sente-se atraído pelos começos, e tende a multiplicá-los, adiando sine linea a conclusão."


João Barrento,
"O Género Intranquilo. Anatomia do Ensaio e do Fragmento", Lisboa, Assírio & Alvim, 2010, p. 77



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