sexta-feira, 4 de julho de 2008

double-face


Não inventes nada.
Olha o rosto.
Olha o espelho.

És tu.

Vira o espelho.
Vê o seu reverso.
Não inventes nada.

És tu.

Trespassa o espelho,
Atravessa-o intempestivamente.
Não inventes nada.
Olha apenas os dois lados.

És tu.

Não digas nada.
Não expliques mais.
Não teorizes.
Não vejas nada.

Espreita apenas.
És tu.

Não compreendes
Como podes ser tu
A olhar-te assim?

Um rosto cospe
Na história da Literatura
No seu rosto.
E diz.

Diz o quê?

Diz a explosão dos cristais de prata
Dos minúsculos cristais
Sobre a face envelhecida da verdade.

Uma velha enlouqueceu
E olha, olha eternamente
Saída da face opaca do espelho.

És tu.


voj 2008

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Foto: Grace Ho
Fonte: http://www.graceoh.net/portfolio.html

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