sábado, 20 de outubro de 2007

espiral


Nós nascemos, vivemos e morremos no meio de outros - óbvia "lapalissada". A nossa necessidade de relação com os outros é permanente, além de, na maior parte dos casos, ser obrigatória.
O equilíbrio da relação de cada indivíduo consigo próprio (isolamento, meditação, contemplação, reflexão, lazer e fruição da solidão e disponibilidade de tempo/espaço, privacidade) e com os outros (saídas, encontros, conversas, relações íntimas, trocas de impressões, desabafos, afirmação pública, etc.) é algo de muito difícil e para o que não há receitas, sendo esse equilíbrio certamente sempre uma utopia, ou uma miragem que cada um de nós persegue, mas que é motivadora e saudável.
Entre muitas patologias, nota-se hoje indivíduos frenéticos na sua "necessidade de estar com outros". Os meios de deslocação ou de comunicação instantânea facilitam essa atitude.
Há pessoas que se colocam numa posição (consciente ou não) de disponibilidade permanente para a mobilização convocada pelo(s) outro(s). A sua descompensação emotiva é óbvia. A fuga para muitos "encontros", a resposta compulsiva a muitas "mensagens" passa a ser constitutiva destes seres desequilibrados, que correm todo o tempo atrás da sua performance junto dos outros, para se sentirem a existir. Inquietante.
Muitas vezes caiem em si e queixam-se do frenesim em que andam. Sem verem que eles próprios o forjaram, tornando-se presa da teia que teceram, e que todos os dias confirmam e renovam. Numa espiral sem fim.

(ver por exemplo, entre milhares de possíveis sugestões de leitura/consulta, o clássico Eric Berne - "Games People Play", New York, Groove Press, 1964).

Do meu (certamente limitadíssimo) ponto de vista, há uma palavra/conceito chave para entender o ser humano: PERFORMANCE.
Como sou arqueólogo, recomendo vivamente aos arqueólogos o estudo deste conceito.
Por onde começar, por exemplo (livro aliás indicado em postagem mais antiga deste blogue):
"Performance. A Critical Introduction", por Marvin Carlson, Londres, Routledge, 2ª ed. 2004.
Mais vale ler pouco mas bem e também aqui é fundamental uma estratégia de equilíbrio.


Foto ("a talk"): Natasha Gudermane
Fonte: http://photo.net/photos/gudermane

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